segunda-feira, 31 de março de 2014

BELTRAME DESNUDA O OBJETIVO
ELEITOREIRO DAS UPPs DE CABRAL

Na entrevista que concedeu na manhã deste domingo (30), pouco depois da confirmada a total ocupação do Complexo da Mare pela Polícia Militar, com ajuda de blindados da Marinha, tal e qual ocorreu no Complexo do Alemão no dia 28 de novembro de 2010, o Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, reafirmou o que vem dizendo há mais de 3 anos: sem a presença efetiva do Poder Público nas áreas ocupadas pela PM, não haverá pacificação. Ele voltou a cobrar a presença permanente do Poder públicos com os serviços devidos ao cidadão, como acesso ao saneamento básico, à uma educação de qualidade, a uma assistência médica universal, a coleta diária de lixo, a poda de árvores, a implantação e a consequente manutenção de serviços básicos, como segurança, telefonia, entrega de correspondência e de mercadorias, e até o simples reconhecimento e cadastramento de ruas, becos e vielas nas comunidades mais carentes.
Uma das principais causas do elevado índice de empregados sem carteira assinada entre os morados dessas comunidades é a falta do CPE – Cadastro de Endereço Postal, pois, sem serviços como água e esgotos, ou telefonia, os moradores dessas comunidades não conseguem emprego, muito menos utilizar o crediário oferecido pelas lojas, pois, sem conta de luz, água ou telefone, o cidadão simplesmente não existe.
Quando foi anunciado a implantação as Unidades de Polícia Pacificadoras – UPPs – todo mundo esperava que, com os PMs, viessem também outros serviços públicos, mas o governo viu nas UPPs um atalho para conquistar o eleitor e deixou de lado a parte mais difícil do projeto: oferecer serviços que estão disponíveis em bairros como Ramos, Copacabana, Barra da Tijuca e Flamengo, tais como coleta de lixo, abastecimento de água, rede coletora de esgotos, escolas e creches, bem como postos de saúde devidamente aparelhadas não só com médicos, mas também com pessoal de apoio especializado, instalações condignas para servidões e usuários, bem como segurança ano trabalho para quem tem que bater ponto em tais comunidades.
É um fato notório que, com a ausência do Poder Público, a “assistência social”, inclusive para resolver brigas de casais, é intermediada pelos traficantes ou integrantes de milícias, que substituem o Estado em tais circunstâncias. O traficante Fernandinho Beira Mar, por exemplo, disse em uma entrevista que começou na carreira de crimes assaltando caminhões de entrega que passavam pela Rodovia Washington Luiz, cujas mercadorias, principalmente alimentos, rupas e eletrodomésticos, eram distribuídos aos moradores da Vila Beira Mar, uma favela espremida entre a Bahia de Guanabara e a BR-040. Como bem feitor da comunidade, Fernandinho conseguia sempre escapar da polícia, além de capitanear seu papel de exótico “Robin Hood” em favor da quadrilha.
No Governo Washington Reis, a prefeitura começou a construir um posto de saúde no terreno antes ocupado por uma indústria química, no sopé do Morro da Telefônica, no bairro Centenário. Inaugurado pelo seu sucessor, Zito, pouco tempo depois foi desativado pela Secretaria de Saúde do município, pela falta de segurança para médicos, pessoal de apoio e pacientes. Agora, com a instalação de uma UPP no alto do Morro da Telefônica, o prefeito Alexandre Cardoso promete reformar o local e reabrir como Posto de Saúde da Família.
A mesma situação vive hoje o pessoal lotado no Posto de Saúde de Parada Angélica, no terceiro distrito, pois quase todos os dias médicos, funcionários de apoio e pacientes são assaltados dentro do posto, por bandidos que controlam o tráfico de drogas numa violenta favela no bairro Santa Lucia, também em Imbariê. Os marginais são foragidos da Vila Cruzeiro invadida pela Polícia em 2010, junto com o Complexo do Alemão, mas o governador está mais preocupado em sair bem nas fotos sobre a ocupação de favelas, sem se preocupar com o “Day After”, isto é, levar serviços públicos para os moradores das favelas pacificadas. 

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