domingo, 22 de dezembro de 2013

COLUNISTA REVELA A FARSA DA 
NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA 
Desde o Governo Lula, a propaganda oficial insiste em que, graças a políticas de inclusão social, o País incorporou ao mercado de consumo alguns milhões de brasileiros, que viviam na linha de pobreza. A assertiva em parte é verdadeira, mas a ascensão de quem morava em palafitas e na beira de barrancos e dos rios não tem todos os itens que permitam classificar o cidadã como classe A. B, C, D ou E. pois serviços básicos como educação, saúde, moradia e emprego com salário digno e carteira assinada são privilégios de parcela muito pequena dos mais de 190 milhões de brasileiros que formam a Nação.
Na quarta-feira (18), o respeitado colunista Tão Gomes Pinto publicou no jornal eletrônico “Brasil/247” um artigo em que desmonta a falácia da nova Classe Média, procloamada pelo Governo e repetida, “ad nauseam”, pela mídia chapa branca de todo o País. Pela importância e seriedade do trabalho do festejado jornalista, decidimos replicar tal artigo, como forma de levantar um debate sobre a tal Nova Classe Média.

“SOMOS MUITO MAIS POBRES DO 
QUE DIZ A PROPAGANDA OFICIAL”
O André Forastieri, do R7, me deu um presente de Natal. Um argumento definitivo para acabar com essa falácia da "nova classe média" com que os governos tentaram nos iludir nos últimos anos.
Simplesmente não existe a tal classe média "emergente".
E como diz o André Forastieri no seu blog, "tanto malho e tanto marketing sobre a ascenção social dos brasileiros mais pobres mascaram uma verdade bem cruel".
Eu explico. Ou melhor, o André explica: até hoje, as empresas de pesquisa usavam um modelo chamado Critério Brasil para classificar os domicílios brasileiros.
Agora, as 180 empresas reunidas na Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) vão aposentar esse modelo.
Eu já havia falado nesse assunto há tempos, quando ainda estava em estudos.
O tal Critério Brasil se baseava apenas no poder de compra das pessoas.
O novo - para dizer qual é a minha classe social, ou a sua - inclui 35 indicadores, coisas à toa, como acesso à rede de água, esgoto, rua pavimentada, nível de educação do chefe da casa, número de empregados domésticos. Considera também a região do domicílio.
Afinal, como diz o Forastieri, vive-se melhor com dois mil reais no interior de Sergipe do que no Rio de Janeiro.
Não sei, talvez. O Rio tem a praia, sempre há a possibilidade de se fazer um arrastão, sem falar nas imensas oportunidades que o tráfico oferece.
Bem, mas vamos falar de agora. Do hoje...
A partir de 2014, quer queiram, quer não queiram, os principais institutos de pesquisa, como Ibope, Nielsen, Ipsos e Data Folha, passarão a usar este novo critério.
Forastieri explica que o novo critério foi desenvolvido por dois professores de marketing, Wagner Kamakura (da Rice University) e José Afonso Mazzon (da FEA - USP).
Ele divide a população brasileira em sete "estratos socioeconômicos". Mas vamos chamar de sete classes: A, B1, B2, C1, C2, D, E.
No novo modelo, a parte inferior da pirâmide - as classes C2, D e E - será maior que hoje.
Esta parte mais pobre do Brasil equivaleria a 58% dos domicílios brasileiros. Pelo critério atual, seriam 41,4%.
Portanto, apesar da melhoria de renda indiscutível nos últimos anos, segundo Mazzon, o número de pobres no país é maior do que se imagina.
Ou seja, acrescenta: "a nova classe média não é tão grande assim como se costuma divulgar".
Como se dividem os domicílios brasileiros, segundo o novo modelo de divisão de classes:
A (2,8% da população): Renda mensal média do domicílio de R$ 17.603,00
B (3,6%): R$ 10.055,00
B2 (15,2%): R% 4.783,00
C1 (20,6%): R$ 2.745,00
C2 (20,6%): R$ 1.463,00
D (22,8%): R$ 1.019,00
E(14,4%): R$ 673,00
Os números gritam a miséria de um país rico, diz Forastieri.
Pois é. Pena o governo não enxergar isso. Ou melhor, tentar esconder essa realidade.
Vamos ver outros indicadores que compõe esse modelo.
Por exemplo: educação. Abaixo das classes A e B1, despenca o nível educacional.
Rua pavimentada é luxo para muitos brasileiros. Rede de esgoto só chega a 37,9% da classe D e 9,5% da classe E.
Segundo Kamakura e Mazzon, 47,6% dos lares brasileiros não têm acesso a uma rede pública de esgoto. Quase metade das casas do país!
A dupla escreveu um livro, "Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil".
No site do André Forastieri você pode inclusive comprar o livro, ver um resumo dele em 34 slides, e até fazer um teste para verificar a que classe pertence.
O trabalho de Mazzon e Kamakura foi escolhido o melhor estudo sobre marketing em países emergentes em 2012 pelo Marketing Science Institute.
Mesmo assim, e apesar dos professores oferecerem seu trabalho gratuitamente para o governo federal, ele foi rejeitado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), órgão encarregado de pensar em estratégias para o futuro do país. Isso não importa.
O fato é que nenhum instituto de pesquisa, nenhuma empresa que queira saber quem está comprando os seus produtos, nenhum partido político, deixará de experimentar o novo critério.
Como diz Forastieri, essa nova visão do Brasil guiará investimentos e ditará prioridades. De marketing, de produção, de comunicação, etc.
Atualmente nós vemos um País que conseguiu aumentar a capacidade de consumo de seu povo, sim, mas onde quase 80% dos domicílios ainda têm renda abaixo de R$ 2.745,00.
E um Brasil que apesar da nova TV, liquidificador e celular (e abençoados sejam), ainda é um país de analfabetos ou semi.
E acrescenta André Forastieri: "O estudo escancara a maneira vergonhosa como são geridos nosso país, estados e municípios. Explicita o desperdício dos nossos recursos em estádios, benesses e corrupção".
E vai mais longe: "Joga na nossa cara a nossa própria insensibilidade. Nós, que aprendemos desde cedo a desviar os olhos. Nós, que somos elite só por ter esgoto - e precisamos agora ter a coragem moral de meter a mão na merda".

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