quarta-feira, 30 de abril de 2014

PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA BAIXADA ESTÁ VIRANDO PÓ 
A Estrada de Ferro Mauá, originalmente denominada Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, foi a primeira ferrovia a ser estabelecida no Brasil. Foi inaugurada em 30 de abril de 1854 em seu trecho inicial, ligando o Porto de Mauá (antigo Porto de Estrela) a Fragoso, num trecho de 14,5 km, mais tarde prolongada, chegando a 15,19 km. Foi construída pelo empresário Irineu Evangelista de Sousa, que mais tarde recebeu do Imperador Pedro II, o título de Barão de Mauá pelo seu empenho na industrialização do Brasil.
Se ainda existisse, a Estrada de Ferro Mauá estaria completando 160 anos nesta dia 30 de abril. Por esse motivo, um grupo de pesquisadores e historiadores da Baixada Fluminense decidiram transformar a data no “Dia da Baixada”, como forma de tentar recuperar o patrimônio histórico e cultural da região, principalmente pelo número de igrejas e capelas construídas ao longo do período colonial, bem como recontar a história da Baixada Fluminense, expurgada dos livros didáticos de História do Brasil.
A primeira tentativa de reescrever a História da Baixada Fluminense foi feita por um grupo de professores da FEUDUC – Fundação Educacional Universidade de Duque de Caxias, criada por um grupo de figuras importantes da vida política e econômica da cidade em 1968, sob a liderança dos médicos Moacyr Rodrigues do Carmo e Ricardo Augusto de Azeredo Vianna, ambos já falecidos, e dos jornalistas Ruyter e Zoelzer Poubel, fundadores do jornal Folha da Cidade e ainda vivos. O primeiro passo foi criar o Curso de História da Baixada Fluminense, o primeiro curso de graduação em História de nível universitário da região e ponto de partida para diversas descobertas, inclusive de um sambaqui ao lado da própria FEUDUC {local sagrado dos índios Tamoios, que habitavam a região). Instalara inicialmente no 25 de Agosto, a instituição ganhou uma extensa área da antiga Fazenda S. Bento, criada pelos monges do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, para o cultivo da cana de açúcar, que, no período colonial, era transformada em aguardente ou açúcar, que eram exportados para a Europa através de Portugal.

Até que, no início do Século XXI, a direção da instituição entrou em guerra com os professores da cadeira de História da Baixada Fluminense, muito procurada por estudantes da região que pretendiam se graduar em História, com foco na Baixada Fluminense. Na ruptura com os professores, a direção da Feuduc chegou a lacrar a sala onde os professores se reuniam para discutir temas de interesse dos estudantes e os resultados das suas pesquisas de campo. Mesmo presidida por um advogado e sem mandado judicial, a direção da Feuduc apreendeu todo o material dos professores que faziam pesquisas sobre os sítios históricos da região.
A crise de identidade da Feuduc foi apenas a ponta do iceberg que ameaça os sítios históricos da Baixada. Pela proximidade com a Capital, a Baixada Fluminense se tornou objeto de cobiça da indústria da construção civil, que vê na região uma nova “Serra Pelada”. E a busca por áreas para construção de hotéis, centros comerciais e até conjuntos residenciais de padrão Fifa acabou destruindo locais importantes para a História da região, como a antiga residência do industrial e líder político Tupynambá de Castro (foto acima), que cedeu a casa para a implantação da Prefeitura e do Fórum de Duque de Caxias, em 31 de dezembro de 1943. Também era do velho líder do PSD do antigo Estado do Rio o prédio da fábrica de macarrão alugada na década de 50 do século passado pelo então prefeito Francisco Correia para sediar a prefeitura, na atual Praça Governador Roberto Silveira. Era um forma simbólica do saudoso Chico da Bomba se livrar da pressão do deputado Tenório Cavalcante, dono do sobrado na atual Av. Governador Leonel Brizola, onde funcionavam, no pavimento superior, a Câmara de Vereadores e o Gabinete do Prefeito (foto abaixo).. 
Os atrasos sistemáticos dos aluguéis eram pretexto mais do que suficientes para que o “Homem da Capa Preta” controlasse os passos do prefeito, que era do PSD de Amaral Peixoto e Tupynambá de Castro. A desapropriação do imóvel só ocorreu no final do primeiro Governo do Dr. Moacyr do Carmo.
Mais recentemente, o patrimônio histórico foi afetado pela inacreditável venda da antiga Matriz de Santo Antônio, na rua José de Alvarenga, inaugurada em 1937 e substituída por um centro comercial, o mesmo ocorrendo com a antiga residência de Tupynambá de Castro, até então abrigando um hotel de alta rotatividade em pleno centro da cidade, que deu lugar a uma loja de departamentos.
Outro sítio importante posto no chão, por registrar a transformação do município em polo industrial, foram os galpões que abrigaram, desde o final da II Guerra Mundial, uma fábrica de linho e outra de botões de madrepérola (Grupo Braspérola), por falta de água, embora fossem vizinhas (Rua Francisca Tomé) dos 4 primeiros reservatórios da atual Cedae, no Morro das Cabras, no bairro Centenário. Junto com as duas empresas desativadas, foram ao chão, na base da marreta, os galpões pertencentes à Cia. União Manufatora de Tecidos (foto ao lado), que, durante décadas, produziu sacaria de juta, fundamental na exportação de café e açúcar.
Outros dois pontos históricos importantes, que estão dependendo de maior agilidade do Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – para não irem ao chão são as Igrejas de Nossa Senhora do Pilar –  frequentada por Tiradentes como responsável pela fiscalização do ouro desembarcado no Porto do Pilar, vindo em lombo de mulas de Outro Preto (Vila Rica) – a Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim, em Magé (foto acima), onde foi batizado Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, além da sede da Fazenda São Bento e a vizinha Capela de Nossa Senhora do Rosário.
Nenhum prefeito dos municípios da Baixada Fluminense – que integravam a Vila de Estrela, uma das seis primeiras elevadas a tal posição no início da colonização do Brasil, cujas terras iam das margens do rio Meriti até às margens do rio Paraíba do Sul, nas proximidades de Juiz de Fora (MG) – promoveu alguma solenidade para lembrar a importância da heróica tentativa de Irineu Evangelista de Souza de, a exemplo da Europa, EE.UU. e Ásia, implantar o transporte ferroviário num país continental como o nosso. A única exceção foi o prefeito de Magé, antiga Vila Estrela, Nestor Vidal que conquistou o seu segundo mandato prometendo investir na restauração da ferrovia criada pelo Barão de Mauá, que seria importante para a exploração turística da Serra de Petrópolis e seus arredores. Até o momento, porém, o projeto da nova-velha ferrovia não saiu do papel. Por conveniência das autoridades locais, a festa foi antecipada para o último sábado (26), na Praia de Mauá, antigo Porto de Estrela, nome original de Magé.

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