MILITARES FICAM
CALADOS
NA COMISSÃO DA
VERDADE
Três militares que foram convocados na manhã desta terça-feira
(29) para prestar depoimento na Comissão Nacional da Verdade (CNV) pediram que
a imprensa se retirasse da sala de audiência pública e, ainda assim, não
responderam às perguntas dos membros do colegiado, quando ouvidos o general
reformado Nilton de Albuquerque Cerqueira e os capitães Jacy e Jurandyr
Ochsendorf, todos defendidos pelo advogado Rodrigo Roca, que orientou seus
clientes a ficarem em silêncio.
"A questão não é colaborar, nem se defender. É
evitar que erros históricos se repitam e acabem virando uma verdade",
disse o advogado, afirmando que a comissão foi induzida a um "erro
histórico" ao divulgar uma foto do acidente em que morreu a estilista Zuzu
Angel, na qual aparece o coronel Freddie Perdigão. A imagem foi entregue à CNV
pelo ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Claudio
Guerra.
"Com esse engano, causou-se um transtorno muito
grande, acredito eu, para os parentes e para os companheiros de farda [do
coronel Perdigão]. Quem declarou isso a Vossa Excelência, ou se enganou, ou te
enganou, que é pior ainda", disse o advogado ao coordenador da CNV, Pedro
Dallari.
Dallari classificou a justificativa de incoerente:
"Se há erro, o erro só pode ser corrigido com depoimentos, com elementos e
com documentos. Não com silêncio. A declaração de que [o convocado ou convidado]
não vai se manifestar sobre um assunto não ajuda na investigação", disse
Dallari. Ele ressaltou que a foto do acidente foi recebida de uma testemunha de
grande credibilidade, que participou ativamente dos eventos. "Não podemos
aceitar que haja contestação das informações por quem se nega a prestar
depoimento, porque aí seria uma inversão da própria lógica do processo de
investigação."
O general Nilton Cerqueira comandava a Polícia Militar do
Rio de Janeiro na época do atentado do Riocentro, em 1981, e há um ofício em
seu nome que pede a retirada do policiamento no dia do show em que ocorreria o atentado. Em outra audiência pública
sobre o caso, a CNV apontou essa estratégia como uma das formas de contribuir
com o clima de terror no episódio, em que a bomba acabou explodindo no carro
com os militares dentro. A participação de Nilton também é apontada no Araguaia
e na Operação Pajuçara, em que foi morto o líder militante Carlos Lamarca, na
Bahia. "Ele esteve relacionado diretamente a esses eventos. É protagonista
de eventos dramáticos da história do Brasil".
Os irmãos Jacy e Jurandyr são apontados como
participantes da farsa montada para sustentar a versão de que o deputado Rubens
Paiva foi resgatado por guerrilheiros e fugiu, encobrindo o fato de ter sido
torturado e morto. "Estavam vinculados ao DOI-Codi e participaram
diretamente da operação de simulação da fuga de Rubens Paiva. Depois, a
comissão apurou que Rubens Paiva não fugiu, foi executado no DOI-Codi, e o que
se fez foi forjar a fuga do parlamentar. Os capitães Jacy e Jurandyr tiveram
participação direta no evento, como foi relatado por um colega deles."
Antes do depoimento de Jurandyr, membros da CNV chegaram
a insistir que ele falasse, e, se não fosse falar, que a imprensa pudesse acompanhar as
perguntas. Em resposta, o militar respondeu apenas que "permaneceria
calado" e que "preferia a ausência da imprensa". (Agência
Brasil)
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