PETROBRÁS
NÃO PAGA INDENIZAÇÃO
E
AMEAÇA OS PESCADORES DE MAUÁ
Retirados
de praia de Mauá, em Magé (RJ) depois de resistirem a megaprojeto da estatal na
Baía da Guanabara, líderes da categoria reclamam do tratamento do governo
federal e pedem segurança para voltarem às suas casas. Além de não receberem a indenização
devida pela Petrobrás por conta de um vazamento de óleo da Reduc, em janeiro de
2004, os pescadores de Mauá tem ser assassinados por resistirem à execução de
obra na região de Mauá, o que pode eliminar a pesca da Baía de Guanabara, que
garante o sustento de suas famílias.
"Tenho de voltar com escolta e ser
protegido enquanto perdurarem as ameaças", diz Alexandre Anderson de Souza (foto),
líder dos pescadores. Dois telefonemas disparados de Brasília atingiram em
cheio três pescadores que desafiaram a Petrobras na Baía de Guanabara, no Rio
de Janeiro. O primeiro par Alexandre e sua Esposa, Deize Menezes de Souza, em
novembro de 2012. O segundo chamado alcançou Maicon Alexandre Rodrigues, em
setembro de 2013. Os três receberam ordens da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência para se retirarem de Magé (RJ), onde viviam e resistiam aos projetos
do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), o maior investimento da
história da estatal. O recado era claro: se não saíssem, seriam mortos por
grupos armados da região, dos quais já haviam sofrido ameaças e atentados.
Incluídos
no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), coordenado
pela secretaria, abandonaram a cidade com a promessa até hoje não concretizada
de que voltariam dois meses depois com segurança. Desde então, vivem como
clandestinos. Não sabem se um dia voltarão a Magé, sede da Associação dos
Homens do Mar (Ahomar), da qual são dirigentes. A entidade está com as portas
fechadas desde agosto de 2012.
Os
pescadores acusam a Secretaria de Direitos Humanos de atuar em parceria com a
Petrobras para mantê-los longe da região onde a empresa toca o maior
investimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), avaliado em US$
13,5 bilhões. O trio afirma que os telefonemas disparados pelo programa,
ainda que eventualmente os tenham livrado da morte, mataram a resistência dos pescadores
de sete municípios da Baía de Guanabara. De 2009 para cá, quatro dirigentes da
Ahomar foram assassinados. Alexandre e Daize contam ter escapado de sete
atentados.
Com
manifestações no mar e ações na Justiça, a entidade virou obstáculo para a
petroleira e seus fornecedores. Conseguiu paralisar trechos de obras por onde
passariam dutos de gás. Desde que foi lançado, em 2006, o complexo petroquímico
virou uma usina de problemas para o governo federal: o orçamento previsto
dobrou e o início de sua operação está quatro anos atrasado.
“Para
mim, quem mata não é só quem atira ou manda atirar. É também quem
deixa atirar. Não tenho dúvida de que minha retirada foi determinada pela
Petrobras. Houve um pedido político para eu deixar Magé”, acusa Alexandre, 43
anos, fundador e presidente da Ahomar. “Já são mais de 550 dias longe de casa.
Tenho de voltar com escolta e ser protegido enquanto perdurarem as ameaças e os
acusados não forem presos”, reivindica. E, para ele, as ameaças partem de
empresas que prestam serviços à companhia.
O drama
vivido pelos pescadores não expõe apenas a fragilidade do Programa de Proteção
aos Defensores de Direitos Humanos, denunciada por outros militantes, mas também a prioridade dada
pelo governo aos grandes empreendimentos que financia, avalia Renata Neder,
assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional, ONG que monitora o
caso.
“A
retirada é necessária em caso de risco extremo, mas em caráter temporário. Há
quase dois anos, Alexandre e Daize não conseguem voltar para casa. O ingresso
no programa não pode acabar com a luta do defensor, que precisa permanecer na
sua comunidade”, adverte Renata.
O Ministério
Público Federal (MPF) monitora a execução do programa. O caso está nas mãos da
procuradora Gabriela Figueiredo. Por tramitar sob sigilo, os procuradores não
quiseram dar entrevista sobre o assunto.
Em
nota, a Petrobras negou qualquer envolvimento com o afastamento dos militantes
e as ameaças. Disse que respeita os direitos humanos e dialoga com as
comunidades do entorno do Comperj. “A Petrobras repudia quaisquer ameaças aos
pescadores e entende que as investigações são de responsabilidade dos órgãos
competentes”, afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário