PETROBRAS PODE ESCAPAR
DO CONTROLE DO GOVERNO
Decisão da estatal comandada por Aldemir Bendine de não
declarar dividendos sobre o exercício de 2014 aos acionistas detentores de
ações preferenciais pode colocar em risco o controle do governo. Ao divulgar
balanço auditado, a Petrobras informou que não pagaria dividendos para
preservar o caixa, mas dispositivo da Lei das Sociedades por Ações diz que
"as ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse
direito se a companhia deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos a que
fizerem jus.
Na atual situação de penúria financeira da estatal, se todas as
ações preferenciais não pertencentes ao governo federal ganhassem direito a
voto, o percentual alcançaria 51,23%, deixando na mão desse grupo a maioria dos
votos em assembleias.
Segundo a agência de notícias Reuters, no entendimento de
advogados e de um jurista consultados pela agência, no caso do estatuto da
empresa não especificar o prazo, como é o caso da Petrobras, esse direito seria
imediato.
"O entendimento que prevalece é o de que, nesses
casos, a aquisição do direito de voto é imediata", afirmou à Reuters o
advogado Joaquim Simões Barbosa, sócio do escritório Lobo & Ibeas
Advogados, na sexta-feira.
A Petrobras informa em seu estatuto social apenas que as
ações preferenciais terão prioridade no caso de reembolso do capital e no
recebimento dos dividendos, no mínimo, de 5 por cento calculado sobre a parte
do capital representada por essa espécie de ações, ou de 3 por cento do valor
do patrimônio líquido da ação, prevalecendo sempre o maior.
Procurada pela Reuters, a Comissão de Valores Mobiliários
disse que acompanha e analisa as informações envolvendo companhias abertas, mas
"não comenta casos específicos em andamento, inclusive para não afetar
negativamente o trabalho de análise ou apuração que entenda cabíveis".
"A empresa não pagar o dividendo é direito dela, mas o
custo disso é o direito de voto para as PNs", reforçou o gestor de um
fundo no Rio de Janeiro, que pediu para não ter o nome citado.
De acordo com dados disponíveis no site da BM&FBovespa
sobre a composição do capital da Petrobras, se todas as ações preferenciais não
pertencentes à União ou a entes ligados ao governo federal como BNDES, BNDES
Participações e Previ ganhassem direito a voto, o percentual alcançaria 51,23
por cento, deixando na mão desse grupo a maioria dos votos em assembleias da
companhia.
Procurada, a assessoria de imprensa da Petrobras disse que
não comentaria o tema.
Mas uma fonte próxima à empresa consultada pela Reuters
disse que não há o menor risco de os preferencialistas adquirirem direito de
voto.
"O não pagamento de dividendos foi algo totalmente
atípico e que não há a menor perspectiva de voltar a se repetir", disse a
fonte que pediu anonimato, argumentando que esse direito só ocorreria se a
empresa apresentasse resultados consecutivos negativos por três anos.
A assembleia de acionistas da Petrobras para votar o
balanço de 2014 e o não pagamento de dividendos referentes ao ano passado está
marcada para o próximo dia 25 deste mês. Após a ratificação em assembleia do
não pagamento de dividendos, os preferencialistas poderiam requerer poder de
voto, segundo entendimento do advogado.
Em nota a clientes, comentando o esclarecimento da estatal
do segmento de energia elétrica, o UBS destacou que os estatutos da Petrobras e
da Eletrobras parecem bastante similares, e questionou se a Petrobras também
dará direito aos preferencialistas à exemplo da Eletrobras, que pagou dividendo
abaixo do mínimo.
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