ASSASSINOS NO PODER
Pesquisadores, historiadores e professores, que militam e/ou moram na Baixada Fluminense, divulgaram um manifesto protestando contra as afirmações do professor José Cláudio Souza Alves, sob o título acima e publicado na mais recente edição da Revista de História. Pela abrangência do tema e pela sua importância política e histórica, abrimos espaço para a divulgação desse manifesto, esperando contribuir positivamente para a discussão em torno do papel da Baixada, sempre considerada o fundo de quintal do Rio de Janeiro.
Em pleno Século XXI, muitos cariocas ainda consideram a Baixada como uma grande e moderna senzala, servindo apenas como fornecedora de mão de obra desqualificada e barata, água em abundância (tanto de Xerém, como do Guandu), sem atentar para o papel que a região sempre exerceu na cultura do Estado do Rio de Janeiro, tanto antes como depois da fusão com o Estado da Guanabara.
O MANIFESTO
Pesquisadores, historiadores e professores, que militam e/ou moram na Baixada Fluminense, divulgaram um manifesto protestando contra as afirmações do professor José Cláudio Souza Alves, sob o título acima e publicado na mais recente edição da Revista de História. Pela abrangência do tema e pela sua importância política e histórica, abrimos espaço para a divulgação desse manifesto, esperando contribuir positivamente para a discussão em torno do papel da Baixada, sempre considerada o fundo de quintal do Rio de Janeiro.
Em pleno Século XXI, muitos cariocas ainda consideram a Baixada como uma grande e moderna senzala, servindo apenas como fornecedora de mão de obra desqualificada e barata, água em abundância (tanto de Xerém, como do Guandu), sem atentar para o papel que a região sempre exerceu na cultura do Estado do Rio de Janeiro, tanto antes como depois da fusão com o Estado da Guanabara.
O MANIFESTO
Nós, pesquisadores, historiadores e professores da Baixada Fluminense, vimos apresentar nossas manifestações acerca do artigo intitulado “ASSASSINOS NO PODER”, de autoria do professor José Cláudio Souza Alves [Revista de História – Ano 3 – Nº 25], que traça um panorama da violência na região desde a década de 1950 à atualidade.
Preliminarmente, gostaríamos de rebater as afirmações do autor de que “a Baixada Fluminense é um imenso campo de concentração sem arame farpado. Ali, 2.500 pessoas são assassinadas por ano, à razão de cinco a seis por dia...”
Como chegou o autor a essas conclusões?
Se a violência nesta região chegou a esses números, o que diremos do atual momento em que se encontra a Cidade do Rio de janeiro, cuja população está acuada pelo confronto entre a polícia e traficantes ou entre as próprias facções criminosas? No momento atual, podemos dizer que a Cidade do Rio de Janeiro sofre mais com a violência do que a Baixada Fluminense. Até bem pouco tempo a Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio, foi um exemplo do que estamos falando, quando escolas e alguns serviços essenciais aos moradores ficaram comprometidos.
Outra afirmação do artigo diz que a Baixada Fluminense “...se situa a oeste da Cidade do Rio de janeiro e é formada por oito municípios: Duque de Caxias, Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e Japeri...”
Na verdade, está situada no lado ocidental da Baía da Guanabara, e é composta, além dos oito já citados pelo autor, também por Magé, Guapimirim e Paracambi. Apesar de algumas pessoas ignorarem, política e administrativamente consideramos também como pertencentes à nossa região os municípios de Itaguaí e Seropédica, perfazendo um total de treze municípios.
O autor estabelece uma linha de tempo e aborda as atuações dos executores na Baixada Fluminense – dos esquadrões da morte, passando pelos grupos de extermínio às atuais milícias. Em contrapartida, menciona a resistência a violência do período da ditadura militar, quando do processo de re-democratização. Infelizmente, concordamos com o autor quando trata da ascensão a cargos públicos pelos antigos matadores da região, fruto da falta de investimentos em Educação – a mola propulsora de uma sociedade.
Também concordamos com o autor quando trata da ação violenta da força policial nas comunidades carentes – morros e favelas. É necessário compreender que os traficantes sempre se utilizaram meios para conquistar a confiança e a submissão dos moradores das comunidades onde atuam e, durante conflitos, os colocam contra a polícia.
Por fim, entendemos que chacinas poderão ocorrer tanto na Baixada Fluminense quanto em qualquer local da ‘Cidade Maravilhosa’. Há algum tempo lutamos para mudar a visão distorcida que as pessoas e a mídia têm da nossa região. Ainda há muito o que fazer para dar um pouco de dignidade ao cidadão baixadense. Todos os problemas não se resolverão da noite para o dia.
No entanto, é preciso vontade política para dar uma nova cara à Baixada Fluminense. Nós procuramos mostrar o lado positivo da região: o patrimônio cultural, as belezas naturais, a atuação das entidades ambientalistas, culturais e sociais. Lancei, inclusive, a proposta para escolhermos as dez belezas da Baixada Fluminense [culturais e naturais] entre vários candidatos. Em breve nos reuniremos para discutir o projeto.
Repudiamos, portanto, qualquer tentativa de atribuir novamente à nossa Baixada o infeliz rótulo de lugar violento, sem lei e miserável. O processo de violência no passado já faz parte do seu contexto histórico, mas não deve de forma alguma ser utilizado como meio depreciativo do momento atual. Precisamos resgatar a auto-estima do baixadense, mas nunca desestimulá-lo.
Cordialmente,
Paulo Clarindo
Nova Iguaçu, RJ, outubro de 2007
Preliminarmente, gostaríamos de rebater as afirmações do autor de que “a Baixada Fluminense é um imenso campo de concentração sem arame farpado. Ali, 2.500 pessoas são assassinadas por ano, à razão de cinco a seis por dia...”
Como chegou o autor a essas conclusões?
Se a violência nesta região chegou a esses números, o que diremos do atual momento em que se encontra a Cidade do Rio de janeiro, cuja população está acuada pelo confronto entre a polícia e traficantes ou entre as próprias facções criminosas? No momento atual, podemos dizer que a Cidade do Rio de Janeiro sofre mais com a violência do que a Baixada Fluminense. Até bem pouco tempo a Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio, foi um exemplo do que estamos falando, quando escolas e alguns serviços essenciais aos moradores ficaram comprometidos.
Outra afirmação do artigo diz que a Baixada Fluminense “...se situa a oeste da Cidade do Rio de janeiro e é formada por oito municípios: Duque de Caxias, Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e Japeri...”
Na verdade, está situada no lado ocidental da Baía da Guanabara, e é composta, além dos oito já citados pelo autor, também por Magé, Guapimirim e Paracambi. Apesar de algumas pessoas ignorarem, política e administrativamente consideramos também como pertencentes à nossa região os municípios de Itaguaí e Seropédica, perfazendo um total de treze municípios.
O autor estabelece uma linha de tempo e aborda as atuações dos executores na Baixada Fluminense – dos esquadrões da morte, passando pelos grupos de extermínio às atuais milícias. Em contrapartida, menciona a resistência a violência do período da ditadura militar, quando do processo de re-democratização. Infelizmente, concordamos com o autor quando trata da ascensão a cargos públicos pelos antigos matadores da região, fruto da falta de investimentos em Educação – a mola propulsora de uma sociedade.
Também concordamos com o autor quando trata da ação violenta da força policial nas comunidades carentes – morros e favelas. É necessário compreender que os traficantes sempre se utilizaram meios para conquistar a confiança e a submissão dos moradores das comunidades onde atuam e, durante conflitos, os colocam contra a polícia.
Por fim, entendemos que chacinas poderão ocorrer tanto na Baixada Fluminense quanto em qualquer local da ‘Cidade Maravilhosa’. Há algum tempo lutamos para mudar a visão distorcida que as pessoas e a mídia têm da nossa região. Ainda há muito o que fazer para dar um pouco de dignidade ao cidadão baixadense. Todos os problemas não se resolverão da noite para o dia.
No entanto, é preciso vontade política para dar uma nova cara à Baixada Fluminense. Nós procuramos mostrar o lado positivo da região: o patrimônio cultural, as belezas naturais, a atuação das entidades ambientalistas, culturais e sociais. Lancei, inclusive, a proposta para escolhermos as dez belezas da Baixada Fluminense [culturais e naturais] entre vários candidatos. Em breve nos reuniremos para discutir o projeto.
Repudiamos, portanto, qualquer tentativa de atribuir novamente à nossa Baixada o infeliz rótulo de lugar violento, sem lei e miserável. O processo de violência no passado já faz parte do seu contexto histórico, mas não deve de forma alguma ser utilizado como meio depreciativo do momento atual. Precisamos resgatar a auto-estima do baixadense, mas nunca desestimulá-lo.
Cordialmente,
Paulo Clarindo
Nova Iguaçu, RJ, outubro de 2007
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