quinta-feira, 24 de julho de 2008

BAIXADA URGENTE - DENÚNCIA

GOVERNO VAI RECONSTRUIR A
PRAÇA JARARACA E RATINHO
Finalmente, as repetidas denúncias dos moradores da Covanca, que o blog reproduziu, acordou o Governo para o estado lamentável da Praça Jararaca e Ratinho. A reforma já começou, mas a Assessoria de Imprensa não divulgou detalhes do projeto. Motoristas, cobradores e despachantes de uma empresa de ônibus com terminal no local reclamam da falta de um banheiro público, razão pela qual a praça, nos últimos anos, havia se transformado num mal cheiroso “mijódromo”. Vamos torcer para que os responsáveis pela obra se lembrem que as necessidades fisiológicas acometem a qualquer um, em qualquer idade, em qualquer lugar e hora! (Foto: Beto Dias)

CAXIAS, A BAHIA SEM 365 IGREJAS
É uma nova Bahia. Faltam-lhe as trezentas e sessenta e cinco igrejas. Mas o resto Caxias tem: um populário rico e maravilhoso... Não tem biblioteca, não tem teatro, não tem uma organização cultural, porém já se tornou uma cidade que atrai turistas e estudiosos, pela beleza do seu folclore. Nesta cidade sem luz e sem calçamento, estiveram nomes internacionais como Barrault, Massine, Sablon, Gianini e diversos estudiosos americanos, ingleses, franceses, russos, tchecos, poloneses, chilenos, haitianos, cubanos e até brasileiros como Antonio Maria, Aníbal Machado, Vanja Orico, Bruno Giorgi, Di Cavalcanti e outros.
Todos esses elementos cultos vieram à Caxias para ver as suas folias de reis, no ciclo natalino, os seus calangos no ciclo junino, os seus sambas no ciclo carnavalesco, e as suas macumbas e candomblés espalhados pela cidade. É uma beleza o folclore caxiense que faz toda essa gente enfrentar a lama, os buracos, a escuridão e até o perigo de assalto.
Marcel Gauthrort, enfrentando uma série de obstáculos, fotografou em colorido as folias de reis e vai expor em Paris o seu maravilhoso trabalho, e assim Caxias será apresentada à Cidade Luz. Edson Carneiro estudou, gravou diversas danças caxienses e sobre elas fez conferências pelo Brasil, o que muito valoriza nossa cidade.
Em Praga encontrei um cidadão que possuía diversas fotografias sobre o folclore caxiense. Através de “Magia Verde”, filme premiado no festival de Cannes, aparece uma cena filmada num terreno baldio de Gramacho. Caxias é um centro turístico, precisando somente de uma regulamentação no seu potencial de turismo, que é o seu folclore.
Agora pergunto: por que a prefeitura de Caxias não organiza um Departamento de Turismo, que além de elevar o nome desta cidade, criaria uma nova fonte de renda para os cofres municipais?
Barbosa Leite poderá ser o pintor de Caxias, assim como Carybé é o moderno Debret da Bahia. E aos jovens do Grupo cabe estudar e divulgar o folclore desta nova Bahia.
No local onde nasceu o Teatro Foclórico Fluminense, foi erguido um galpão, hoje abandonado, em pleno centro de Duque de Caxia (Foto: Arquivo/Blog)

● A crônica acima reproduzida foi publicada em junho de 1957 pelo jornal “Grupo”, editado em Duque de Caxias, Era assinada por Francisco Solano Trindade e, nela, o poeta do trem da velha Leopoldina evocava as tradições desta cidade e sua contribuição à cultura popular.
● Se vivo fosse, o pernambucano Solano Trindade estaria completando hoje,
24 de julho, 100 anos. Depois de rodar pelo Brasil, o poeta, acompanhado da mulher, Maria Margarida, e dos filhos, veio dar com os costados em Duque de Caxias, onde escreveu e publicou (1947) um dos seus mais famosos poemas, “O Trem Sujo da Leopoldina”. Por isso ele foi preso, acusado de incitar o povo contra o Governo, pois afirmava, em seus versos e de forma repetitiva, o que hoje é bordão de Lula; TEM GENTE COM FOME.
● Curiosamente, em 1975 o poema voltou a ser proibido pela Censura, ao ser musicado para ser incluído num disco do ‘Secos e Molhados”, que gravaram uma outra poesia de Solano Trindade, “Mulher Barriguda”, onde a Censura, de uma forma curiosa, exigiu a retida de uma virgula. A estrofe dizia MULHER BARRIGUDA, NÃO. Pois a Dona Censura, sempre obtusa, mudou o sentido do poema.
● Para quem só agora está conhecendo Duque de Caxias, principalmente os “assessores” importados da Barra ou Ipanema, Solano Trindade, além de poeta, ator e músico, foi o criador do Teatro Popular Brasileiro, o primeiro do País a incentivar a participação do cidadão comum. Nas palavras de sua filha Raquel, era um teatro feito por operários, empregadas domésticas, estudantes e comerciários, que se apresentava muito nas ruas, universidades e fez muita apresentação com a UNE.
● Ele também criou o Teatro Folclórico Fluminense, uma escola de teatro em Duque de Caxias, que funcionava num velho sobrado da Av. Plínio Casado, esquina com a rua Estevão de Giácomo, onde hoje existe o que restou de um supermercado.
● Solano Trindade também formou um grupo que viajou pelos EUA e Europa, sendo o primeiro a mostrar o negro no palco como astro principal. Foi ele também quem levou ao palco, pela primeira vez, a peça de seu amigo e também poeta, até então desconhecido do grande público, Vinícius de Moraes, “Orfeu da Conceição”, que foi adaptado para o cinema como “Orfeu Negro” por questões mercadológicas. O papel de “Orfeu” foi vivido por Haroldo Costa, seu aluno no Teatro Popular Brasileira e que a remontou em 2007, com sucesso de público em de crítica, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
● Em 15 de setembro de 2001, o jornalista Xico Sá publicou na Folha da São Paulo uma curiosa e apaixonada crônica, onde afirmava que Solano Trindade era o “pai” do “rapper”, que só se tornaria um fenômeno musical e comportamental 40 anos depois. Xico Sá lembra um dos poemas do poeta negro, em que ele utiliza a linguagem que hoje é comum entre os “rappers’ de S. Paulo, como nos seguintes versos: ”Que foi que fizeste mano/ Pra assim tanto falar?”, “(...) Subi para o morro, / Fiz sambas bonitos, / Conquistei as mulatas/ Bonitas de lá...”
● Esse negro esquecido pela História e pelos historiadores, era visitado na poeirenta Duque de Caxias, recém emancipada de Nova Iguaçu, por figuras como Di Cavalcante, o compositor e jornalista Antônio Maria, a atriz Vanja Orico, consagrada no filme “O Cangaceiro”, vencedor do Festival de Cannes, o escritor Aníbal Machado e o escultor Bruno Giorgio, entre outros. Eles vinham também para conhecer nossos bairros, pobres e abandonados, mas celeiros de manifestações culturais afro-brasileiras, além do Teatro Folclórico Fluminense. Ele morreu pobre e esquecido numa clínica de Santa Tereza em 20 de fevereiro de 1974.
•“Eu estou muito emocionada, muito feliz”, disse Raquel Trindade na abertura do evento que comemora os 100 anos do nascimento de seu pai, no palco do Centro Cultural de Embu das Artes, no último dia dia 4. Revelando a importância de Solano Trindade para a cultura popular brasileira, a Prefeitura de Embu promoveu junto aos Correios o lançamento do selo postal e carimbo personalizados comemorativos da data. Durante este mês, todas correspondências remetidas de Embu terão esses registros, levando a imagem e o nome do principal poeta e ativista negro contemporâneo do país para qualquer parte do mundo.
• Radicado no Embu, que ganhou o termo “das Artes” graças ao trabalho ali desenvolvido pelo poeta de Recife, Solano Trindade não poderia deixar uma herança mais multirracial e cultural. A família Trindade mistura negros, brancos, amarelos, índios. “Papai já tinha a visão de que a gente se unisse a todas as raças, tanto que tenho netos japonegro, afro-germânico, e papai falava “tenha orgulho de ser negro e das nossas tradições””, ressaltou Raquel, folclorista e artista plástica que herdou e transferiu para sua geração o talento do pai e também da mãe, Margarida Trindade.
• Em 1950, junto com Edson Carneiro, o pernambucano Solano Trindade fundou o Teatro Popular Brasileiro, teatro folclórico de valorização da cultura popular. Rachel lembrou ainda quando Solano chegou ao Embu, convidado por Sakai e Assis. “Ele ficou louco pelo Embu, achou que tudo que havia de ruim no mundo, Embu tinha de bom”. Das lições deixadas por Solano a Raquel e seus descendentes, uma é lembrada em especial. “Papai certa vez me disse: “não vou deixar nada de material. Se você gosta de arte filha, se entregue a ela. A arte é o alimento da alma””.
• Lamentavelmente, a Cultura não é artigo de primeira necessidade (aos olhos de nossos governantes) e, por isso, esse 24 de julho, que deveria ser comemorado em grande estilo em louvor ao homem que criou o 1º Teatro Negro do Brasil, que deu a um negro, seu aluno Haroldo Costa, o papel-título de “Orfeu Negro”, que levou as danças afro-brasileiras, inclusive a capoeira e o candomblé, para os aristocráticos palcos da Europa, não mereceu das Secretarias de Cultura do Estado e do Município um simples registro, até mesmo uma Missa Solene na Catedral de Santo Antonio ou uma modesta igrejinha de subúrbrio.
• Não é difícil levantar R$ 1,2 milhão para comprar um terreno para a edificação de mais uma Igreja na cidade, não há constrangimento algum em usar a serra elétrica para derrubar dezenas de pau-ferros que ladeavam a velha Estrada Rio-Petrópolis, não há o menor constrangimento em usar dinheiros públicos para construir a sede de uma escola de samba, mas é difícil encarar a Cultura como o retrato de um Povo, sofrido, humilhado e condenado à viver sempre na miséria, moral e física!

2 comentários:

Anônimo disse...

Senhor Alberto, muito boa a lembrança de Solano Trindade, que aqui viveu por muitos anos e elevou o nome de nossa cidade, assim como tantos outros que nossa história guardará para sempre.
Quanto à cultura, muito feliz também o seu comentário. Ela parece não fazer parte da cesta básica do atual governo, cujas nomeações "trabalham" pela pobreza cultural e o ostracismo.
Muito lamentável.
Felizmente, ainda há uma trincheira, que é o Institutoto Histórico da Câmara Municipal. Mesmo funcionando em instalações preárias, ainda respira cultura de verdade.

Anônimo disse...

Enquanto isso, uma tal secretaria de cultura continua sob uma eclipse que não passa nunca.
Depois ainda querem contar historinhas prá boi dormir.