CONFRONTOS EM ÁREAS COM UPPS DEMOSTRAM A AUSÊNCIA DO ESTADO
Os recentes
confrontos entre criminosos e policiais em comunidades pacificadas no Rio
mostram que é preciso reavaliar a política de implantação das unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs). Até o momento são 36 locais ocupados pelas forças
de segurança do estado que eram controlados por traficantes fortemente armados.
Nos últimos meses, bandidos têm feito disparos contra policiais, cabines e
carros da polícia em algumas dessas comunidades, o que representa uma nova
reação do tráfico contra a ordem do Estado.
A avaliação é da
cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania
da Universidade Cândido Mendes, Silvia Ramos. “A reação dos criminosos nos
primeiros anos das UPPs foi um pouco de imobilismo e estarrecimento. Nós
tínhamos uma tradição no Rio de Janeiro em que se anunciava uma política de
segurança que não durava. Depois desse período e agora, com a expansão, certos
setores de grupos criminosos saíram do imobilismo e resolveram fazer uma
política de enfrentamento mais direto”, disse a pesquisadora que estuda o
fenômeno da criminalidade há mais de uma década e acompanhou a implantação das
primeiras UPPs.
Apesar de
confrontos violentos verificados nos últimos meses, em comunidades que estavam
desacostumando dos tiroteios, Silvia Ramos não crê em ressurgimento do tráfico
nos mesmos moldes de antes quando exerciam total controle sobre o território.
“Eu não acredito
que este tipo de enfrentamento, embora provoque muito desgaste na política de
segurança nas polícias e para as populações tenha capacidade de vencer. É uma
coisa mais desesperada são grupos aloprados, de traficantes com raiva, que
resolvem passar e metralhar policiais que estão nas portas das UPPs. Isso é
grave mas não é o fim do mundo, no sentido de que a polícia vai perder esta
empreitada”, explicou.
Para a
pesquisadora, estas reações dos traficantes indicam que mudanças precisam ser
feitas na política de UPPs, que completou cinco anos em 2013, depois que a
primeira comunidade, o Morro Santa Marta foi pacificado, no bairro de Botafogo,
zona sul da cidade.
“Está na hora de
repensar alguns aspectos das politicas de UPPs. A ideia de que é um
policiamento permanente, de inspiração comunitária e de polícia de proximidade
é a lógica geral que preconizávamos há mais de 20 anos para o Rio de Janeiro.
Mas como se faz isso? Está mais do que óbvio que a polícia não tem sido capaz
de manter canais permanentes de diálogo, de escuta da população local, de
criação de fóruns comunitários, de canais de queixas e reclamações. Em muitas
comunidades, o comandante da UPP ainda se arvora a direitos, missões e coisas
que não são da alçada da polícia”, observou.
O ponto fraco do
projeto, segundo Silvia foi a falta de ação do governo em levar serviços de
infraestrutura às comunidades deixando muitas vezes apenas os policiais como
representantes do estado.
“Fazendo um
balanço de cinco anos, temos uma coisa positiva que é a queda da taxa de
homicídios na maioria das áreas onde há UPP, sendo que em alguns lugares até
zerou. Isto tem que ser preservado. O fato negativo é este descompasso do que
se chamou de UPP social com a UPP policial. A maior decepção é a falta de
políticas sociais. Hoje o que caracteriza uma favela é a quantidade de lixo na
entrada. Isso para não falar no esgoto, saneamento e desordenamento urbano”,
acrescentou (Vladimir Platonow – Repórter
da Agência Brasil)
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