FELIZ 2015
por Cristóvam Buarque
Nada
melhor para começar um novo ano do que buscar inspiração em um Educador que
leva a Política a sério, longe da prática do “é dando que se recebe”, uma
versão sínica das palavras do monge que inspira as ações do Papa Francisco, S.
Francisco de Assis.
O professor e senador Cristóvam Buarque preenche com folga
o perfil do Educador que pensa na Educação como forma de inclusão social, sem
as muletas de bolsa isso, bolsa aquilo que vem poluindo a política social do
governo nos últimos 11 anos. Por tudo que ele representa de renovação polítida
e numa singela homenagem aos professores de todo o País, humilhados e
espezinhados pelos nossos governantes, decidimaos transcrever a magistral mensagem
de Feliz Ano Novo do mestre Cristóvam Buarque, publicada no jornal "O Globo".
Algo vai mal quando um país que precisa enfrentar
seus problemas chama de ano da Copa um ano de eleições presidenciais. É o que
está a acontecer com o Brasil.
Cinquenta mil brasileiros são assassinados por ano,
outros cinquenta mil morrem no trânsito e outros 515 mil estão presos; a droga
compromete a vida, a capacidade de trabalho e o futuro de centenas de milhares
de nossos jovens; metade da população não tem acesso a água e esgoto; e a
economia se desindustrializa.
Quanto ao potencial científico e tecnológico
estamos cada dia mais para trás em relação ao resto do mundo; as avenidas estão
atravancadas; a educação apresenta um retrato vergonhoso e uma brutal
desigualdade; os hospitais públicos estão caóticos; e a natureza está sendo
degradada.
No país, temos 13 milhões de adultos que não
diferenciam as letras e outros 40 milhões sem capacidade de leitura; a produção
não dispõe de logística eficiente para sua distribuição; e cinquenta milhões de
brasileiros vivem graças à (felizmente) ajuda do programa Bolsa Família. Apesar
disso, em vez de propostas dos presidenciáveis para 2015, estamos preocupados se
os estádios da Copa ficarão prontos em 2014.
Isto se explica por nossa paixão pelo futebol, mas
também pela descrença com a política, sobretudo porque não há candidatos
propondo programas que empolguem a população. Até aqui, todos são tão iguais no
comportamento e na falta de propostas diferenciadas. Assim, sobra apenas o
grito de Viva a Copa.
Os candidatos ainda não apresentaram propostas para
transformar a viciada economia brasileira de exportadora de bens primários,
inclusive, alguns de indústria mecânica, em produtora de bens de alta
tecnologia; nem mostraram como vão fazer o desenvolvimento ser sustentável
ecologicamente e justo socialmente.
Não há propostas para o cerco em que vivem os
brasileiros por causa da violência urbana provocada por desesperados com suas
pobrezas diante da imensa guerra ao redor, nem para enfrentar a crescente
mobilização de desiludidos, movidos pelas redes sociais, para promoverem atos
de bloqueio de trânsito, queima de veículos e quebra de vidraças.
Nenhum candidato propôs ações para emancipar nossos
pobres da necessidade de ajuda mensal.
Nenhum dos presidenciáveis disse como vai conduzir
o Brasil no rumo da erradicação do analfabetismo e como garantir educação de
qualidade igual para todos. Nem qual será o salário dos professores ao fim de
seu mandato, nem como eles serão selecionados e avaliados.
Nesse quadro de “des-eleição”, o ano de 2014 será o
ano da Copa. No primeiro de janeiro de 2015, poderemos acordar com a sensação
de que tudo continuará no mesmo rumo de um país que cresce se desfazendo.
Por
isso, só nos resta desejar um Feliz 2014 para cada um dos brasileiros e um
Feliz 2015 para o Brasil
Cristovam Buarque é
senador (PDT-DF).
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