ESTATÍSTICAS NÃO EXPLICAM GASTOS
ELEVADOS COM SEGURO DESEMPREGO
O governo federal gastou R$ 32 bilhões com o pagamento de
seguro-desemprego em 2013, valor recorde desde pelo menos 2001, de acordo com
série histórica levantada pelo Contas Abertas. A taxa de desocupação no Brasil,
no entanto, foi estimada em 6,2% no 4º trimestre de 2013, uma redução de 0,7
ponto percentual em relação ao 3º trimestre de 2013 (6,9%) e ao 4º trimestre de
2012, quando a taxa também foi estimada em 6,9%. A taxa média no ano caiu de
7,4% em 2012 para os 7,1% em 2013. No último trimestre do ano, 6,052 milhões de
pessoas encontravam-se desempregadas, ante os 6,653 milhões desocupados no 4º
trimestre de 2012.
Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística quinta-feira (10), na Pesquisa Nacional de Amostra de
Domicílio Contínua (Pnad Contínua). Só no 4º trimestre do ano, o governo
desembolsou quase um terço do total destinado ao pagamento deste seguro (R$
10,1 bilhões). Este ano, até março, R$ 7,5 bilhões já foram pagos. O benefício
do seguro-desemprego foi instituído em 1990, com a finalidade de prover
assistência financeira temporária a trabalhadores desempregados sem justa
causa, e auxiliá-los na manutenção e na busca de emprego.
O Ministério do Trabalho e Emprego não encaminhou
justificativa até a publicação da matéria. No entanto, órgão costuma afirmar
que as principais razões que respondem pelo aumento dos gastos federais com o
seguro-desemprego no longo prazo são os requisitos para recebimento do
benefício, o crescimento e a rotatividade do mercado de trabalho e o aumento do
salário mínimo.
Não é de hoje que o aumento dos gastos com
seguro-desemprego tem sido comentado pelo Contas Abertas. Desde 2006, a ONG
publica matérias sobre o tema, questionando sobretudo o fato dos valores
crescerem, ano a ano, mesmo com a diminuição do desemprego.
O fato dos valores crescerem mesmo com a diminuição do
desemprego pode ser explicado, em parte, pelo número de fraudes que acontecem
nos pagamentos do benefício. Em apenas três operações da Polícia Federal (PF)
sobre fraudes no seguro-desemprego, entre novembro de 2012 e setembro do ano
passado, foi identificado o desvio de R$ 56 milhões em pagamento de auxílios
indevidos. O aumento dos gastos com os benefício tem pressionado as contas do
Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Investigações da PF apontaram a formação de uma quadrilha
especializada em Pernambuco, que acessava o Sistema Nacional de Emprego (Sine)
com números de processos trabalhistas inexistentes e falsos vínculos
empregatícios. Um outro esquema de fraudes foi descoberto no Pará, com a
participação de servidores do Ministério do Trabalho, da Caixa Econômica
Federal e do Sine, além de políticos locais para fraudar o seguro destinado a
pescadores artesanais no estado.
Em São Paulo, foi presa quadrilha que teria desviado mais
de R$ 30 milhões, usando nomes de empresas e beneficiários fictícios. Medidas
antifraude Com a finalidade de combater fraudes e reduzir custos no pagamento
seguro-desemprego, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) iniciou no fim do
ano passado a implementação de uma série de medidas no pagamento do benefício.
Ao solicitar o benefício pela segunda vez num período de dez anos, por exemplo,
o sistema Mais Emprego, do MTE, vai considerar o trabalhador candidato
prioritário aos cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec). Antes, essa exigência era no terceiro pedido no período de
dez anos. A realização da pré-matrícula do trabalhador nos cursos será de forma
automática no Portal que comunicará ao Ministério da Educação (MEC) e ao
próprio órgão que o beneficiário necessita fazer curso de qualificação
profissional para receber o benefício. Esta solução, segundo o ministério, visa
assegurar o controle de matriculados e não matriculados, frequência e evasão
permitindo, quando for o caso, o cancelamento automático do benefício caso o
trabalhador não frequente o curso no qual está inscrito. O MTE anunciou ainda
mudança no pagamento do seguro-desemprego ao pescador artesanal, com a
implantação de aplicativo informatizado no Portal Mais Emprego que exige, na
rotina diária de habilitação ao Seguro-Desemprego – Pescador Artesanal, a
validação dos computadores da rede de atendimento por parte dos chefes e
gerentes de postos. Paralelamente, também no fim do ano, quando o governo cogitou
reduzir despesas para cumprir a meta fiscal, mencionou estudar a redução dos
gastos com seguro-desemprego e abono salarial. Pnad Contínua interrompida A
diretora de pesquisa do IBGE, Marcia Quintslr pediu demissão após o instituto
informar na quinta (10) que a Pnad Contínua será interrompida até janeiro do
ano que vem. A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, afirmou ao jornal O Globo
que Marcia não concordou com a decisão do colegiado de interromper a pesquisa,
que vem sendo reformulada desde 2006. Os dados divulgados ontem, mostraram que
a taxa de desemprego médio no país ficou em 7,1% no ano passado, contra 5,4%
nas seis maiores metrópoles, estatística usada anteriormente como referência
para o mercado de trabalho. O IBGE recebeu requerimento dos senadores Gleisi
Hoffman (PT-PR) e Armando Monteiro (PTB-PE) mostrando “preocupação com os dados
que estão sendo coletados e que estão sendo divulgados possam gerar avaliação
equivocada por parte dos Estados” no rateio do Fundo de Participação dos
Estados e Municípios. Atualmente a repartição utiliza como base o PIB per
capita, mas a Lei complementar número 143/2013 prevê que seja substituída pela
renda domiciliar per capita. A presidente do IBGE disse que os pesquisadores
continuarão em campo para a Pnad Contínua e que será necessário aumentar as
amostras e testes. Estão mantidas para este ano a Pnad nos moldes tradicionais.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares está prevista para janeiro, assim como a
retomada da pesquisa contínua, com divulgação mensal de alguns dados a respeito
do mercado de trabalho brasileiro. –
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