COMISSÃO DA VERDADE DO RJ VAI
INVESTIGAR A OPERAÇAO CONDOR
A Comissão Estadual da Verdade
do Rio de Janeiro pedirá informações à Justiça argentina sobre a participação
de militares brasileiros na Operação Condor. A comissão quer colaborar para
esclarecer o caso do jornalista argentino Norberto Armando Habegger, que
despareceu no Brasil após desembarcar no aeroporto do Galeão, em 1978.
O presidente da comissão,
Wadih Damous, disse nesta quarta (30) que pedirá ajuda à Comissão Nacional da
Verdade, para conseguir informações por meio do governo argentino com o
Judiciário daquele país. "Levantaremos os dados sobre esse caso e com a
comissão nacional veremos a melhor forma jurídica de ingressar no
processo", informou.
Em março, a Justiça argentina
instaurou ação para investigar a Operação Condor e o desaparecimento de 106
latino-americanos. Entre eles, está o caso do jornalista Norberto Habegger, que
integrava o grupo de guerrilheiros conhecidos por Montoneros e de mais dois
argentinos que desapareceram no Brasil.
Nesta quarta, durante
depoimento do filho do jornalista, o cineasta Andrés Habegger, a comissão
estadual entregou à cônsul da Argentina no país, Alana Lomonaco, documento da
ditadura brasileira alertando sobre a atuação dos montoneros e para o
aparecimento de corpos de ativistas mortos pela repressão.
Segundo o filho do
desaparecido argentino, não se sabe ao certo o destino de seu pai. A hipótese
mais provável é que, depois de capturado no Rio por militares brasileiros, o
jornalista teria sido levado pelos agentes da ditadura argentina para um campo
de concentração naquele país, depois de torturá-lo.
"Esse é um processo
doloroso, porém, saneador. É muito melhor saber o que aconteceu, saber tudo, e
conviver em paz com sua própria história", disse o cineasta que viu o pai
pela última vez aos 9 anos de idade. "Convivi com essa ausência, com um
pai desparecido toda uma vida. São marcas que não saem".
Documentos recentes elaborados
pelo governo brasileiro e dados da Anistia Internacional, que entrevistou
sobreviventes de campo de concentração na Argentina, confirmam a passagem de
Norberto pelo Brasil e dão nomes de três militares argentinos que o capturaram
no aeroporto do Rio de Janeiro.
Com base neles, Damous
reforçou que buscará identificar os brasileiros envolvidos na Operação Condor.
"Não foram agentes argentinos que chegaram aqui, sequestraram e foram
embora. Houve a colaboração da ditadura brasileira", acrescentou.
Diante das provas brasileiras,
a família do desaparecido, que é testemunha no processo sobre a operação,
espera provar a ligação entre os sistemas de repressão do Brasil e da Argentina
e exigir que os envolvidos sejam punidos. Na Argentina, ao contrário do Brasil,
os militares foram penalizados por seus crimes. (ABr)
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