terça-feira, 17 de junho de 2014

A QUEM INTERESSA AS
VAIAS DO ITAQUERÃO? 
Como advogado e veterano jornalista, tenho a convicção de que, quando uma das partes em conflito decide apelar para as ofensas é porque admitiu a derrota e que já não lhe restam outros argumentos de convencimento da legitimidade da sua posição na disputa.
Assim, considero a vaia como um legítimo direito de contestação a atos dos governantes. E até a proposta cínica de se dar pão e circo aos que protestavam diante do Palácio do rei, revela que a vaia era aceitável até em regimes feudais e ditatoriais. Mas deploro o xingamento, pois transforma uma luta política – que deve girar em torno de propostas alternativas de governo – numa rasteira rinha onde os contendores se engalfinham sem saber até mesmo por que estão lutando.
Assim posto, considero a vaia dirigida à Presidente Dilma – de quem discordo visceralmente – como um ato insano, provocado não por uma imaginária elite, como ela se referiu em seu pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, mas por bolsões extremistas que insistem em ser contra tudo o que aí está.  Por outro lado, diante do que ocorreu no Rio Centro, não podemos afastar, também, a hipótese de que grupos extremistas do lulismo tenham imaginado  um plano macabro para transformar a ex guerrilheira numa vítima visando garantir, no mínimo, a dúvida do eleitor quanto aos responsáveis pelos seguidos desastres do seu governo. Esse golpe foi tentado contra José Serra, quando um grupo, integrado por um churrasqueiro ligado a Lula, foi preso em um hotel de São Paulo pronto para comprar um falso dossiê contra o candidato tucano.
 Em ambos os casos, um golpe sujo que deve ser denunciado e reprovado.
Assim, esses grupos, que usam o grito como arma, restringem os espaços para uma discussão racional e objetiva sobre temas que deveriam estar na pauta de todos os candidatos a cargos no Executivo – Presidente da República e Governadores - como EDUCAÇÃO – que anda em falta até nos parlamentos, como se viu na Alerj há poucos dias, SAÚDE – cada vez mais precária, pois se morre por infarto até na porta de um hospital que é referência nacional em cardiopatias, TRANSPORTE de qualidade – pois não podemos entregar no prazo previsto o que vendemos para o exterior por falta de portos organizados, estradas de ferro e rodovias confiáveis, muito menos chegar ao trabalho sem antes perder até 4 horas dentro de trens, ônibus, metrôs e vans superlotados por falta de uma efetiva POLITICA DE TRANSPORTEE PÚBLICO, MEIO AMBIENTE – pois não basta parar de derrubar florestas para implantar pastos, mas recuperar tudo o que foi destruído em 5 séculos de rapinagem do território brasileiro, CIÊNCIA E TECNOLOGIA –  através da produção científica de nossas Universidades e Institutos especializados, sem precisar de 16 segundos de atenção da FIFA, como ocorreu no Itaquerão durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo, ASSISTENCIA SOCIAL –que tenha por meta a recuperação da dignidade e da autoestima do cidadão posto à margem da sociedade por falta de educação e de oportunidade de trabalho, o que seria possível através da sua participação em projetos de inserção no mercado do trabalho, sem a muleta paternalista e corruptora de bolsas disso ou daquilo, que deveriam ser medidas provisórias, aplicadas em casos específicos e por prazos limitado.
A vaia do Itaquerão, porém, não permite essa discussão de alto nível, que deveria ser a pauta dos programas dos partidos veiculados gratuita e obrigatoriamente pelo rádio e TV antes das eleições. 
Uma pena!
(Publicado nesta terça-feira (17) no jornal “Capital”)

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