A QUEM INTERESSA AS
VAIAS DO ITAQUERÃO?
Como advogado e veterano jornalista, tenho a convicção de
que, quando uma das partes em conflito decide apelar para as ofensas é porque
admitiu a derrota e que já não lhe restam outros argumentos de convencimento da
legitimidade da sua posição na disputa.
Assim, considero a vaia como um legítimo direito de
contestação a atos dos governantes. E até a proposta cínica de se dar pão e
circo aos que protestavam diante do Palácio do rei, revela que a vaia era
aceitável até em regimes feudais e ditatoriais. Mas deploro o xingamento, pois
transforma uma luta política – que deve girar em torno de propostas
alternativas de governo – numa rasteira rinha onde os contendores se
engalfinham sem saber até mesmo por que estão lutando.
Assim posto, considero a vaia dirigida à Presidente Dilma
– de quem discordo visceralmente – como um ato insano, provocado não por uma
imaginária elite, como ela se referiu em seu pronunciamento em rede nacional de
rádio e televisão, mas por bolsões extremistas que insistem em ser contra tudo
o que aí está. Por outro lado, diante do
que ocorreu no Rio Centro, não podemos afastar, também, a hipótese de que grupos
extremistas do lulismo tenham imaginado um
plano macabro para transformar a ex guerrilheira numa vítima visando garantir,
no mínimo, a dúvida do eleitor quanto aos responsáveis pelos seguidos desastres
do seu governo. Esse golpe foi tentado contra José Serra, quando um grupo,
integrado por um churrasqueiro ligado a Lula, foi preso em um hotel de São
Paulo pronto para comprar um falso dossiê contra o candidato tucano.
Em ambos os casos,
um golpe sujo que deve ser denunciado e reprovado.
Assim, esses grupos, que usam o grito como arma, restringem
os espaços para uma discussão racional e objetiva sobre temas que deveriam
estar na pauta de todos os candidatos a cargos no Executivo – Presidente da
República e Governadores - como EDUCAÇÃO – que anda em falta até nos
parlamentos, como se viu na Alerj há poucos dias, SAÚDE – cada vez mais
precária, pois se morre por infarto até na porta de um hospital que é
referência nacional em cardiopatias, TRANSPORTE de qualidade – pois não podemos
entregar no prazo previsto o que vendemos para o exterior por falta de portos
organizados, estradas de ferro e rodovias confiáveis, muito menos chegar ao
trabalho sem antes perder até 4 horas dentro de trens, ônibus, metrôs e vans
superlotados por falta de uma efetiva POLITICA DE TRANSPORTEE PÚBLICO, MEIO
AMBIENTE – pois não basta parar de derrubar florestas para implantar pastos,
mas recuperar tudo o que foi destruído em 5 séculos de rapinagem do território
brasileiro, CIÊNCIA E TECNOLOGIA – através da produção científica de nossas
Universidades e Institutos especializados, sem precisar de 16 segundos de
atenção da FIFA, como ocorreu no Itaquerão durante a cerimônia de abertura da
Copa do Mundo, ASSISTENCIA SOCIAL –que tenha por meta a recuperação da dignidade
e da autoestima do cidadão posto à margem da sociedade por falta de educação e
de oportunidade de trabalho, o que seria possível através da sua participação
em projetos de inserção no mercado do trabalho, sem a muleta paternalista e
corruptora de bolsas disso ou daquilo, que deveriam ser medidas provisórias,
aplicadas em casos específicos e por prazos limitado.
A vaia do Itaquerão, porém, não permite essa discussão de
alto nível, que deveria ser a pauta dos programas dos partidos veiculados gratuita e obrigatoriamente pelo rádio e TV antes das eleições.
Uma pena!
Uma pena!
(Publicado nesta terça-feira (17) no jornal “Capital”)
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