GOVERNO QUER BOTAR A MÃO NO
SUPERÁVIT EM FUNDOS DE PENSÃO
A
destinação do superávit obtido pelos fundos de pensão das empresas estatais foi
tema, nesta quarta (2), de debate na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
A Resolução 26 do Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC)
determina que os valores excedentes dos fundos retornem aos cofres das empresas
patrocinadoras, mas representantes dos beneficiários consideram a resolução
ilegal, e defendem que ela seja sustada por meio do Projeto de Decreto
Legislativo 275/2012, do senador Paulo Bauer (PSDB-SC), que tramita no Senado e
motivou a audiência pública.
“Se
existe excesso, esse excesso decorreu da competência do investidor, não
decorreu do excesso de contribuição. Se há excesso de contribuição, o atuário
técnico errou. Se existem excessos porque o investimento foi interessante,
então esse valor tem que reverter para o fundo para poder garantir o quê?
[Segundo] a lei e a Constituição, o pagamento de benefício”, alegou o
representante do Grupo de Defesa dos Participantes da Petros, Rogério Derbly.
O
governo, no entanto, não vê problemas com a resolução, e entende que ela é
legal. De acordo com o representante do Ministério da Previdência Social, o
assessor de Políticas de Previdência Complementar Carlos Marne Dias Alves, o
assunto foi intensamente debatido com a sociedade, antes de a resolução ser
editada, e ela não contém vícios. “É uma sobra. O trabalhador, de forma alguma,
será prejudicado. O benefício que ele contratou no regulamento vai ser
cumprido. Essa reversão seria do excedente do valor que foi contratado”,
explicou.
Mesmo
assim, Alves garantiu que o governo está “aberto” a discutir eventuais mudanças
na resolução ou na legislação que regulamenta a Previdência Complementar. “Se o
colegiado entender que deve ser revisto, o governo não vê problema em rever
essa posição. Só que é uma posição que, no momento em que foi tomada, foi
cercada de uma série de cuidados para que não houvesse nenhuma ilegalidade. Mas
o governo é parte do colegiado que disciplina a Previdência Complementar”,
explicou.
Em
sentido contrário, os representantes dos participantes dos planos estão certos
de que a resolução é ilegal. Um dos mais experientes entre eles, o assessor
previdenciário da Associação dos Funcionários Aposentados do Banestado, Ruy
Pedroza, foi enfático ao dizer que o repasse do superávit às empresas
patrocinadoras constitui crime de enriquecimento ilícito.
“É um
vício insanável. A Resolução 26 inventou a reversão de valores, ou seja,
devolver à empresa patrocinadora a sua contribuição. Ora, a empresa
patrocinadora não contribui em nada. A empresa, e isso é um fundamento
econômico, opera como agente repassador dos custos aos preços. Então, tudo que
ela gasta, inclusive a sua contribuição para a Previdência Complementar, é
repassado nos preços para o consumidor dos seus serviços. Devolver uma
contribuição que ela já repassou a terceiros é promover o enriquecimento
ilícito, o enriquecimento sem causa da empresa”, alegou Pedroza.
Ele
lembrou ainda que as empresas têm lucro com o patrocínio de seus fundos de
pensão, porque têm o direito de abater no Imposto de Renda 20% da contribuição
para a Previdência Social que, nesse caso, é representada pelos fundos de
pensão dos trabalhadores. “Ter lucro com o dinheiro da Previdência Social não é
o objetivo de uma empresa. É deformação isso”, completou. (Agência Senado)
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