MP VÊ INDÍCIOS DE "LIMPEZA
SOCIAL" NAS RUAS DO RIO
A superlotação de um abrigo para população em situação de
rua no Rio de Janeiro pode estar relacionada à Copa do Mundo, de acordo com o
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ). Hoje (10), o órgão
revelou o descumprimento de decisão judicial de abril que limitava o número de
pessoas no Abrigo Municipal Rio Acolhedor, em Paciência, na zona oeste. O local
tem capacidade para 150 pessoas e está atualmente superlotado, com 463
abrigados em condições insalubres.
A vistoria que constatou o aumento do número de abrigados
foi feita quinta-feira (5) pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de
Justiça da Cidadania (CAO Cidadania) do MPE. Segundo a promotora do caso,
Patrícia Villela, a prefeitura foi orientada a não encaminhar mais pessoas para
o abrigo e regularizar a superlotação imediatamente. A medida era ainda uma
tentativa de impedir a “higienização da cidade”, a retirada de pessoas das
ruas, às vésperas do mundial, segundo o MP.
“Acho que a [higienização] é uma inferência possível.
Existe incidência da população de rua na zona norte, mas a maioria dos
encaminhados [para o abrigo] estão vindo do centro, da zona sul e do Maracanã”,
informou Patrícia, referindo-se a regiões que concentram os pontos turísticos
do Rio. De acordo com censo da Secretaria Municipal de Assistência Social, a
cidade tem 5 mil pessoas nas rua e vagas para 2 mil em abrigos. Procurada para
comentar a denúncia, a prefeitura não retornou.
Além da superlotação, na vistoria, o MP constatou falta
de medicamentos para tuberculose, que coloca em risco quem convive com os
pacientes, o compartilhamento de lâminas de barbear e problemas de pele
causados por percevejos nos colchões. No abrigo também foram encontradas
“baratas e outros vetores” no mesmo local em que alimentos são preparados para
consumo. “Vamos ter que voltar à Justiça”, frisou Patrícia. “Este abrigo é um
depósito de gente”.
Para garantir que a prefeitura do Rio cumpra a decisão da
Justiça e resolva os problemas no Rio Acolhedor, o MP informou que já entrou
também com ação de improbidade administrativa contra gestores e cobra multa
mais alta para o descumprimento da liminar. Com a medida, a promotora explica
que a Justiça pode estipular até a prisão dos responsáveis. (ABr)
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