MAQUIAGEM
ESCONDEU DÉFICIT
DE R$
43 BI NAS CONTAS DE 2013
O Banco
Central informou que, em 2013, a União apresentou superávit primário de R$ 74,4
bilhões, o equivalente a 1,55% do PIB. A meta inicial estabelecida era de R$
108,1 bilhões, mas posteriormente foi reduzida para R$ 73 bilhões, com o
abatimento dos dispêndios referentes ao PAC e ao Plano Brasil Sem Miséria.
Assim, pode-se considerá-la conquistada.
Entretanto,
o Tribunal analisou que, mesmo para se alcançar esse valor reduzido, foi
necessário que o governo federal adotasse as chamadas manobras fiscais. Segundo
o TCU, o resultado primário do governo central não teria sido atingido em 2013
sem as receitas atípicas (parcelamento, concessões e dividendos) e o float de
restos a pagar (postergação de pagamento), o que mantém disponibilidade
financeira referente às despesas primárias.
Enquanto a arrecadação caiu a despesa subiu |
A
inscrição de restos a pagar é instrumento de uso consagrado no âmbito da
política fiscal brasileira, prevista inclusive na legislação. No ano passado,
R$ 72,6 bilhões foram adiados para exercícios seguintes. “Ou seja, caso os
estágios da despesa tivessem sido cumpridos integralmente ao longo de 2013, ao
menos parte das despesas primárias inscritas em restos a pagar poderiam ter
sido pagas no exercício, impactando negativamente o resultado primário”,
explica o relatório.
Já as
receitas extraordinárias, atípicas, não usuais ou não recorrentes, decorrem,
como regra geral, de operações fiscais ou extrafiscais não rotineiras ou, ao
menos, pouco comuns do ponto de vista das características predominantes das
receitas primárias.
Assim,
diferentemente da arrecadação de tributos e das receitas decorrentes da
prestação de serviços e da exploração econômica de bens e direitos, que seguem
um fluxo contínuo e regular de realização, as receitas extraordinárias, em
geral, resultam de transações específicas, cuja frequência é incerta ou
imprevisível, e costumam envolver valores materialmente relevantes.
Para o
ministro Raimundo Carrero, relator do processo, a análise demonstra mais uma
vez a necessidade de que sejam adotadas providências visando ao atendimento da
Lei de Responsabilidade Fiscal, mediante a definição legal de uma metodologia
de apuração do superávit primário.
A redução do IPI quebrou os municípios e os estados industrializados |
“Essa
medida é fundamental para garantir a transparência e compreensão dos resultados
fiscais alcançados pelo governo federal. Embora a metodologia adotada pelo
Bacen seja respaldada em procedimentos internacionalmente aceitos, transações
atípicas e mudanças promovidas por sucessivas LDO’s têm dificultado o
acompanhamento e afetado a credibilidade das informações”, explicou.
Em 17
de janeiro deste ano, o Contas Abertas encaminhou denúncia ao Ministério
Público junto ao Tribunal de Contas da União, com o intuito de que a Corte de
Contas possa quantificar o real superávit primário de 2013 e tomar as medidas
cabíveis em relação às manobras orçamentárias que o governo federal realizou no
final do ano passado.
No
começo do ano, o Contas Abertas divulgou que a manobra orçamentária de
postergar a contabilidade ganhou grandes proporções de 2013 para 2014. Pela
primeira vez, desde o início da série histórica do Banco Central, em 1997, as
despesas de janeiro superaram as de dezembro, por exemplo.
De 2013
para 2014 houve crescimento de 27,8% dos restos a pagar processados (quando só
falta o pagamento do serviço prestado), ocasionado pela emissão de bilhões de
reais em ordens bancárias nos últimos dias do ano – para que fossem sacadas
apenas nos primeiros dias de 2014 – e também pela retenção de receitas
estaduais e municipais.
Em
dezembro, do dia 1º ao dia 27, a União pagou R$ 2 bilhões em investimentos
(obras e equipamentos). No entanto, entre os dias 28 e 31 foram desembolsados
R$ 4,1 bilhões. Em resumo, nos quatro últimos dias de 2013, incluindo sábado,
domingo e véspera de feriado, o governo emitiu ordens bancárias no dobro do
valor que lançara nos 27 dias anteriores.
As
despesas que não foram realizadas em 2013 e ajudaram o superávit daquele ano,
no entanto, criaram amarras para 2014. A meta fiscal deste ano não será
cumprida e o governo federal já encaminhou proposta para que o Congresso altere
a Lei de Diretrizes Orçamentárias com o intuito de não ser “enquadrado” em
crime de responsabilidade fiscal.
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