SEM RECEBER HÁ DOIS
MESES
OPERÁRIOS PARAM O COMPERJ
Com nariz de palhaço, trabalhadores da empresa Alumini
Engenharia S/A depositaram seus macacões em caixões em um protesto, na manhã de
hoje (22), em frente à sede da Petrobras. Com cartazes e apitos, eles cobram a
responsabilização da estatal e que esta ajude a encontrar uma solução para as
dívidas trabalhistas de sua terceirizada.
Sem receber há dois meses pelo trabalho nas obras do Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro (Comperj), alguns também se preocupam com o risco de ficar sem
moradia, já que a empresa custeava a estadia na pousada do trabalhador para
parte dos que vieram de outros estados em busca de emprego e suspendeu esse
pagamento.
"Só estamos lá porque o dono da pousada está com pena,
mas não tem mais nem refeição. Tem dia que que não almoço e como
biscoito", disse o mecânico montador João*, que deixou a família na Bahia
para trabalhar na obra, há três anos. A mulher e os dois filhos adolescentes
dependem da renda que ele envia mensalmente não apenas para o sustento. A filha
mais velha, de 17 anos, foi aprovada em medicina em uma universidade
particular, mas, sem o salário, ele não sabe como tornar esse sonho realidade:
"Moro longe, mas criamos muito bem os meus filhos", diz, orgulhoso.
João deixou sua terra porque achava impossível conseguir lá
a renda mensal de R$ 2,1 mil, além das horas extras. Sem salário e sem saber se
continuará na casa onde mora, ele ressalta que não conseguiu juntar dinheiro
nem para pagar a passagem de volta para a Bahia, caso precise: "Mandei
tudo para lá, mas, há dois meses, já não mando nada. Eles estão passando
dificuldade."
A situação é bem parecida com a do eletricista Marcos*, de
28 anos, que também veio da Bahia, mas não conseguiu vaga na pousada e mora de
aluguel. "Pago R$ 900 por mês por uma quitinete. Os preços aumentaram
muito e agora estou há dois meses sem pagar. A proprietária disse que vai me
despejar."
Ele deixou a mulher há nove anos na Bahia e, nas visitas ao
longo desse tempo, ela engravidou duas vezes. Agora, ele se preocupa também com
a educação dos dois filhos, de 5 e 8 anos: "Acho que meus filhos não vão
conseguir estudar este ano. Já estou devendo a mensalidade de dezembro e não
consegui pagar a matrícula", lamenta Marcos.
Casada e mãe de uma jovem de 17 anos, Márcia* conta que
conseguiu segurar as despesas de início de ano com o dinheiro que tinha
guardado, mas não sabe como será em fevereiro, se não receber. O marido de
Márcia foi demitido da mesma empresa em setembro, mas recebeu todos os direitos
e agora recebe o seguro-desemprego: "Eu quero continuar na Alumini, porque
é uma empresa boa. A gente não tinha o que falar dela, mas não sabemos qual é a
real situação", diz a técnica, que não recebeu explicações sobre o atraso
de nenhum representante da empresa.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas
Empresas de Manutenção e Montagem Industrial do Município de Itaboraí, 2,5
mil funcionários da empresa Alumini Engenharia S/A estão sem receber
desde dezembro e outros 469 foram demitidos sem o pagamento da rescisão
contratual.
A Alumini teve suas contas bloqueadas, mas obteve uma
recuperação judicial na Justiça na última terca-feira (20). Segundo a
assessoria de imprensa, um plano de pagamento será apresentado aos credores em
cerca de 60 dias, o que inclui os direitos trabalhistas. A empresa explica que
as contas foram bloqueadas por uma decisão da Justiça do Trabalho de Ipojuca
(PE), "por causa do não cumprimento integral do acordo de rescisão dos
trabalhadores da empresa que atuavam na Refinaria do Nordeste". A Alumini
afirma que não cumpriu as rescisões porque a Petrobras não liberou R$ 1,2
bilhão em aditivos em favor da empresa, referente a trabalhos já executados.
A Agência Brasil
procurou a Petrobras, mas a empresa não se manifestou até o fechamento desta
matéria.
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