GOVERNO PAGOU R$ 163 MILHÕES
A EMPRESAS DO CASO LAVA JATO
Com futuro incerto e dentro de ambientes financeiros
inóspitos, com a torneira do crédito fechada nos bancos e com constantes
avalanches em valor de mercado, as empresas da Lava Jato ainda podem contar com
contratos vigentes celebrados com a União (Executivo, Legislativo e
Judiciário). Só em janeiro deste ano, as empresas receberam, juntas, R$ 163,4 milhões.
Segundo levantamento do portal Contas Aberas, mesmo se
futuramente forem julgadas inidôneas e proibidas de disputar qualquer processo
licitatório de obras e serviços públicos, os contratos celebrados quando ainda
eram idôneas devem ser honrados.
Assim, a Queiroz Galvão continua sendo grande prestadora de
serviços para o governo: ela já recebeu R$ 91,8 milhões só no primeiro mês do
ano. É o maior montante recebido entre todas as investigadas pela operação. O
Ministério da Integração Nacional é o responsável pelo pagamento da maior
parcela. A Pasta pagou R$ 81,9 milhões à empreiteira para que faça a integração
do Rio São Francisco com as Bacias dos Rios Jaguaribe, Piranhas-Açu e Apodi.
Em segundo lugar do ranking das empreiteiras da Lava Jato
que mais receberam recursos públicos, R$ 39,5 milhões foram pagos à Norberto
Odebrecht neste início de ano. Todo o valor foi investido pelo Comando da
Marinha: a empreiteira deve implantar estaleiro e base naval para construção e
manutenção de submarinos convencionais e nucleares.
Em seguida, a Mendes Junior, que já recebeu R$ 15,4 milhões
da União. A maior parte do valor, R$ 10,1 milhões, foi pago pelo Ministério da
Integração Nacional a fim de implementar o perímetro de irrigação Tabuleiros
Litonâneos de Parnaíba, com cerca de seis hectares no Piauí.
As empresas estão no centro das discussões mais calorosas
sobre os rumos da investigação da Lava Jato. A razão são os possíveis acordos
de leniência entre as empreiteiras e a Controladoria-Geral da União sem antes
terem sido celebrados com o Ministério Público, que detém todas as informações
sobre as investigações.
Os acordos são defendidos pelo governo federal como forma
de manter as empresas em funcionamento enquanto correm as ações penais da
operação. Em audiência pública na Câmara dos Deputados esta semana, o
advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, mais uma vez, defendeu os acordos.
Segundo Adams, eles não são uma exceção ao combate à
corrupção. “Eles são um instrumento de combate à corrupção e ao mesmo tempo
mantêm a atividade econômica”, disse o advogado-geral da União.
Adams demonstrou preocupação com a saúde financeira das
empresas acusadas e disse que o acordo de leniência impede que elas paguem por
atos de deus dirigentes. O termo impede que as pessoas jurídicas beneficiadas
sejam consideradas inidôneas, ou seja, fiquem impedidas de contratar obras com
o governo. “A inidoneidade só vale para obras futuras e não para as obras em
andamento”, disse o procurador.
No entanto, para o procurador Júlio Marcelo de Oliveira,
representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, os
acordos de leniência em fase de formalização pelo governo federal com empresas
mencionadas na Operação Lava Jato já atrapalharam as investigações.
Segundo o procurador, desde que as empresas começaram a
negociar acordos de leniência com a CGU, os dirigentes acusados de envolvimento
no pagamento de propina e formação de cartel em obras da Petrobras deixaram de
fazer delações premiadas na Justiça.
Ele também rebateu preocupações de Adams quanto à saúde
financeira das empresas em caso de aplicação das penas previstas na Lei
Anticorrupção. “Temos que comparar o custo de punir com o custo de não punir.
Quanto custa ao País manter um mercado de obras públicas contaminado por corrupção?
O custo de não punir é mais alto do que o custo de punir as empresas
contaminadas”, disse o procurador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário