GOVERNO
REDUZ EM 37%
INVESTIMENTOS
EM 2015
O atraso
na aprovação do orçamento de 2015 e o ajuste fiscal fizeram com que os
investimentos da União despencassem 37,3%. Até abril, foram investidos R$ 11,5
bilhões, em valores correntes, queda de R$ 6,8 bilhões em relação ao total
aplicado no mesmo período de 2014 (R$ 18,3 bilhões). Se considerados os valores
atualizados pela inflação, o montante investido pelo governo federal é o menor
desde 2009.
Na
comparação entre 2015 e 2014 houve redução em todas as fases da execução. Nas
despesas empenhadas (compromissos assumidos para pagamento posterior), por
exemplo, os valores passaram de R$ 14,8 bilhões no ano passado, para R$ 4,5
bilhões este ano.
O mesmo
aconteceu nas despesas executadas e nos valores pagos com os orçamentos dos
próprios exercícios. Até mesmo os restos a pagar pagos, para os quais não havia
restrições de pagamento pela inexistência do Orçamento de 2015, sofreram
retração. Nos primeiros quatro meses de 2014 somaram R$ 16,5 bilhões e neste
ano apenas R$ 11 bilhões.
A queda
já pode ser sentida por ao menos 23 órgãos, dos Três Poderes. A maior redução
ocorreu no Ministério da Defesa. O órgão aplicou R$ 2,8 bilhões a menos neste
ano. As aplicações passaram de R$ 4,4 bilhões para R$ 1,6 bilhão.
O
Ministério dos Transportes teve diminuição de R$ 1,4 bilhão. A VALEC e o
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), por exemplo,
vinculados à Pasta de Transportes, tiveram redução de R$ 260,1 milhões e R$ 1,1
bilhão, respectivamente.
O
Ministério do Desenvolvimento Agrário, que bateu recordes de investimentos em
2014 com os kits para os municípios, reduziu em R$ 1,5 bilhão os desembolsos no
chamado GND 4, que atingiram apenas de R$ 95,2 milhões entre janeiro e abril de
2015.
Os cortes
atingiram ainda pastas ligadas diretamente ao atendimento da população, como as
de Saúde, Educação e Desenvolvimento Social. O Ministério da Educação reduziu
em R$ 895 milhões os investimentos, o da Saúde em R$ 496 milhões. As aplicações
do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome caíram R$ 189 milhões.
Vale
ressaltar que ainda não foi publicado o decreto de programação orçamentária e
financeira para o ano, dessa forma os ministérios só podem gastar o limite
fixado pelo Decreto 8.434 até que se defina quanto será contingenciado no
Orçamento, o que só deve ocorrer no fim de maio.
O corte
nas despesas discricionárias deverá situar-se entre R$ 60 bilhões e R$ 80
bilhões. De acordo com o economista Gil Castello Branco, a redução será
diretamente proporcional à tramitação das medidas provisórias 664 e 665 que se
encontram no Congresso Nacional. “Quanto maior for a desfiguração da
proposta do governo, maior será o contingenciamento. A relevância do corte
cogitado (R$ 60 a R$ 80 bilhões) pode ser medida se compararmos que em 2014 o
total dos investimentos da União foi de R$ 57,2 bilhões”, afirma o
secretário-geral do Contas Abertas.
Para o
economista Mansueto Almeida, esse padrão de redução deve se repetir até o fim
do ano e deve ter impacto nos investimentos privados, como no caso das
concessões: “As concessões públicas implicam em uma contrapartida de
investimentos por parte do poder público. Como a Infraero, por exemplo, vai
fazer os investimentos necessários nos aeroportos, se o governo atrasa os repasses?
”.
O
economista alerta que a redução dos investimentos, vista como solução para
cumprir a meta de superávit primário para este ano, não poderá ocorrer no
próximo ano. “O ajuste fiscal você faz por um ano, no ano seguinte não dá para
cortar mais. A meta deste ano vamos conseguir bater, já em 2016 será mais
difícil. Tenho receio que a solução impacte em aumento da carga tributária”,
afirma o economista.
Investimentos da União e das Estatais
consolidados
Para Gil
Castello Branco, o receio é que novos aumentos na taxa de juros associados ao
contingenciamento, agravem a retração econômica. “Como as despesas da União são
rígidas, os cortes certamente incidem sobre os investimentos prejudicando ainda
mais os diversos setores produtivos da economia brasileira”, completa o
economista.
Os dados apurados pelo Contas Abertas
consideram os valores pagos com os orçamentos dos respectivos exercícios
acrescidos dos restos a pagar pagos decorrentes de anos anteriores.
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