GOVERNO RESISTE À IMPLANTAÇÃO
DO CONSELHO DE GESTÃO FISCAL
Em meio ao turbilhão de práticas de “contabilidade
criativa” que o governo federal tem utilizado para inflar os resultados
fiscais, a criação do Conselho de Gestão Fiscal. prevista na Lei de
Responsabilidade Fiscal
(LC 101) desde
2000, ainda não saiu do papel, apesar da Presidente Dilma Rousseff insistir na
criação de Conselhos para ditar as políticas públicas, passando por cima da competência
do Congresso.
O Conselho, que o governo não criou, faria o
acompanhamento e a avaliação, de forma permanente, da política e da
operacionalidade da gestão fiscal. A criação do conselho estabelece normas de
finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras
providências. A constituição, segundo a legislação, seria de representantes de
todos os Poderes e esferas de Governo, do Ministério Público e de entidades
técnicas representativas da sociedade.
De acordo com a lei, a atuação do conselho visaria
harmonização e coordenação entre os entes da federação e a disseminação de
práticas que resultem em maior eficiência na alocação e execução do gasto
público, na arrecadação de receitas, no controle do endividamento e na
transparência da gestão fiscal. Além disso, também estariam entre as missões do
conselho a adoção de normas de consolidação das contas públicas, padronização
das prestações de contas e dos relatórios e demonstrativos, normas e padrões
mais simples para os pequenos Municípios, bem como outros, necessários ao
controle social, e, a divulgação de análises, estudos e diagnósticos. O
conselho ainda instituiria formas de premiação e reconhecimento público aos
titulares de Poder que alcançarem resultados meritórios em suas políticas de
desenvolvimento social, conjugados com a prática de uma gestão fiscal pautada
pelas normas da Lei Complementar.
O Movimento Brasil Eficiente, criado por 70 entidades da
sociedade civil para promover a reformulação tributária, está na luta para que
essa ideia saia do papel junto com a simplificação da tributação brasileira.
Para Roberto Carvalho, coordenador executivo do Brasil Eficiente e vice-presidente
do Instituto Atlântico, o conselho seria um ótimo instrumento para acompanhar e
evitar desperdício do dinheiro público.
“O conselho é essencial para a eficiência fiscal e
competitiva do Brasil”, explica.
O Movimento já apresentou a ideia para diversas
autoridades do Congresso Nacional, para o Ministro da Fazenda, Guido Mantega,
na intenção de que chegasse à presidente Dilma Rousseff, e, para os outros
candidatos à presidência, como Aécio Neves e, na oportunidade, Eduardo Campos.
Apesar disso, nenhum dos programas de governos dos candidatos faz menção ao
conselho. Segundo o relatório das propostas do Brasil Eficiente, o conselho tem
objetivo de produzir regras e recomendações sobre o emprego dos recursos
fiscais. “Está claro que este Conselho faz uma enorme falta à Administração
Dilma”, aponta.
Para Marcos Mendes, doutor em economia e consultor
Legislativo do Senado Federal, certamente uma agência com essa natureza
ajudaria a melhorar a qualidade da política fiscal no Brasil, pois atuaria
sobre pontos críticos que precisam ser aperfeiçoados. “Este seria um grande
passo no sentido de se mudar o perfil expansionista de nossa política fiscal,
de melhorar a qualidade da intervenção do governo na economia e, com isso,
elevar o potencial de crescimento do país”, explica. No artigo “O que são
“instituições fiscais independentes”?”, Mendes aponta que há evidências
empíricas de que entidades desse tipo têm efeito concreto. “Um estudo do FMI
mostra que países com Conselhos que atendem a alguns requisitos básicos apresentam
desempenho fiscal mais sólido e orçamentos mais realistas. Esses requisitos
são: ter independência operacional, realizar análise de projeções fiscais,
estar presente na mídia e monitorar metas fiscais”. Para ele, o Brasil, sem
dúvida, carece de um aperfeiçoamento institucional dessa natureza.
Entre os motivos para o Conselho não sair do papel,
segundo Mendes, está a regulamentação. A LRF exige que o Conselho tenha
representantes de todos os poderes, em todos os níveis de governo, além de
representantes de entidades técnicas da sociedade civil. “Surgem aí alguns
problemas práticos e algumas incongruências com a ideia de entidade
independente”, aponta. De acordo com o economista, para o Conselho ser
convertido em uma verdadeira instituição fiscal independente, seria necessário
alterar a LRF com vistas a dar ao Conselho um perfil similar ao das agências
reguladoras: nomeação de um pequeno número de diretores, com perfil técnico,
evitando-se dar representação a entidades, órgãos governamentais ou poderes
públicos. “Deve-se, ademais, prover a entidade com equipe técnica qualificada e
abrir a possibilidade de atuar em conjunto com universidades e outras
instituições capacitadas para fazer as análises que se espera de uma IFI”,
explica.
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