ITAMARATY MANDA
ESTAGIÁRIA
DISCUTIR
ESPIONAGEM NA ONU
Apesar de ter anunciado uma
forte ação internacional contra a espionagem dos EUA, o governo brasileiro
enviou para a reunião da cúpula de direitos humanos da Organização das Nações
Unidas (ONU) que discutiria justamente esse tema ontem, em Genebra, uma
diplomata de baixo escalão que acabou substituída, durante o dia, por uma
estagiária.
A denúncia foi feita neste
sábado (21) pelo jornal “O Estado de São Paulo”, acrescentando que o Brasil
chegou a patrocinar a convocação do encontro, ao lado de Alemanha e países
escandinavos. Mas nas duas horas de reunião a delegação brasileira não pediu a
palavra uma só vez e a estagiária se limitou a tomar nota do que dizia cada um
dos participantes. Mais de dez países tomaram a palavra para expor suas
posições, desde Equador a Paquistão, Suíça a Montenegro. Enquanto isso, a
embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, promovia um almoço
para sua despedida do cargo.
Na reunião, diplomatas
discutiram o caso brasileiro, em que a Agência de Segurança Nacional dos EUA
(NSA, na sigla em inglês) é suspeita de monitorar e-mails da própria
presidente, além de dados sigilosos da Petrobrás. O encontro contou com a alta
comissária Navi Pillay e o relator da ONU para Liberdade de Expressão, Frank La
Rue. Na plenária lotada, estavam embaixadores de diversos países, inclusive dos
EUA e do Reino Unido.
Navi Pillay deixou claro que
governos precisam agir para proteger a privacidade e as atuais leis não estão
garantindo essa proteção. "A tecnologia permitiu níveis sem precedentes de
interferência no direito à privacidade." Sua principal preocupação é com a
arbitrariedade na busca por informações de cidadãos. Ela ainda se disse
"preocupada" com o fato de que argumentos de segurança nacional
possam justificar "abusos".
No encontro, 250 entidades da
sociedade civil, várias delas brasileiras, apresentaram 13 princípios que
governos deveriam seguir no que se refere à espionagem e ao controle da web. O
documento pede que governos sejam transparentes sobre o uso de monitoramento da
web, ajam dentro da lei, respeitem direitos individuais e atuem com
proporcionalidade.
Segundo ainda o “Estadão”, ficou
acertado que a ONU deverá convocar ainda neste ano uma sessão especial do
Conselho de Direitos Humanos para debater de novo o tema. A meta é que uma
resolução seja apresentada para esclarecer qual a posição do direito
internacional em relação à espionagem.
La Rue propôs que a ONU crie
um relator que ficará responsável por redigir princípios que deveriam ser
seguidos por países, na forma de um tratado internacional. "A regra é
simples: toda a lei (de espionagem) que existe no mundo offline deve ser válida
para o mundo online. Se para abrir uma carta no correio alguém precisa de uma
ordem judicial, isso também deve ocorrer na internet", disse.
O relator da ONU para
Liberdade de Expressão admitiu que governos precisam se ocupar de assuntos de
segurança nacional. "Mas o que estamos falando aqui é de um sistema de
monitoramento que coloca em risco o próprio sistema democrático. A falta de
privacidade limita a liberdade de expressão."
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