PETROBRÁS TERCEIRIZOU
AS PESQUISAS NO PRÉ
SAL
Funcionários da Petrobras demonstraram preocupação nesta quarta
(9) com a terceirização de funcionários e as consequências dessa prática no
Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez Mello (Cenpes) da
estatal. Segundo eles, são 360 mil trabalhadores terceirizados em todos os
setores da companhia. O assunto foi discutido em audiência pública na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para debater os impactos da
terceirização, além de problemas que podem ocorrer se as operações das
plataformas forem feitas por empresas privadas. Os funcionários da Petrobras
também pedem que sejam abertos concurso público.
Segundo o geofísico da Petrobras Brayer Grudka Lira, o
próprio trabalho de pesquisa inicial da busca de petróleo também está sendo
terceirizado. "Não é só a operação. Toda a parte de pesquisa do Cenpes -
inclusive várias pesquisas estão sendo feitas fora - em que os pesquisadores do
que deveria ser um centro de referência têm que ir para fora, para pegar uma
pesquisa que já vem pronta para, ao invés dele fazer todos os testes no próprio
Cenpes. Problema na pesquisa, problema na operação e inclusive na investigação
do petróleo. Todas essas áreas passam por um processo de terceirização e a
gente tem que lutar justamente para evitar e para que acabe com isso",
contou, acrescentando que os funcionários querem uma Petrobras estatal, onde
todos os funcionários tenham direitos iguais, e que no futuro os funcionários
terceirizados tenham acesso a esses direitos e sejam concursados.
De acordo com o presidente da Associação dos Engenheiros
da Petrobras (Aepet), Silvio Sinedino, a preocupação com a terceirização é de
todos os petroleiros por causa das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores
terceirizados. Segundo ele, o funcionário concursado, que trabalha nas
plataformas, trabalha 14 dias e folga 21 dias, enquanto o terceirizado tem
regime de 14 por 14.
"O que está acontecendo hoje é uma invasão maciça de
terceirizados na Petrobras. Nós temos hoje em torno de 65 mil petroleiros
concursados e mais de 360 mil trabalhadores terceirizados. A terceirização é
perversa para o mundo do trabalho. Eu não sou contra os terceirizados, eu sou
contra a terceirização, porque precariza salários, precariza condições de
trabalho. 90% dos acidentes em geral da Petrobras envolvem trabalhadores terceirizados.
Não só porque o terceirizado vai fazer os trabalhos mais perigosos, com risco
de vida, mas também pela sua pouca disponibilidade de treinamento e poucas
condições de trabalho. Temos que brecar a terceirização", explicou.
O procurador do Ministério Público do Trabalho Federal,
Marcelo José Fernandes da Silva, disse que o ministério tentou um acordo com a
Petrobras e solicitou que a companhia apresentasse uma proposta para resolver o
problema dentro de 6 meses. Segundo ele, algumas reuniões ocorreram e o
ministério pediu um estudo no qual a empresa reconheceria as atividades que
poderiam ser objeto de contratação direta. Segundo Silva, isto já seria um
avanço.
"O diretor executivo da Petrobras, Antônio Sérgio
disse na Copa do Mundo que o estudo já estava pronto. Segundo ele, iria
submeter o estudo à diretoria executiva, mas quando entrei em contato com ele
agora, ele falou que com a repercussão geral, a diretoria decidiu deixar esse
diálogo em “stand by” (estado
de espera). Se tínhamos chegado a algum avanço da negociação, não cabia neste
momento suspender a discussão", contou.
Silva disse ainda que os prazos da Petrobras esgotaram-se
para tentar solucionar os problemas e que agora só resta ao Ministério Público
do Trabalho investigar a improbidade administrativa da companhia.
"Eu tenho absoluta convicção que o que move a
Petrobras na questão da terceirização não tem qualquer amparo jurídico. Não há
um argumento jurídico consistente da Petrobras. Eu comuniquei isso ao Antônio
Sérgio e disse que todo o prazo que eu tinha para tentar uma negociação com a
Petrobras para resolver principalmente o problema dos concursados. Todos esses
prazos se esgotaram. Agora ao Ministério Público do Trabalho só resta a
investigação da improbidade administrativa e esse vai ser o caminho adotado
pelo Ministério Público a partir de agora", ressaltou.
Em nota, a Petrobras informou que, "de acordo com o
publicado no Relatório de
Sustentabilidade 2013 da Petrobras, o número de prestadores de serviço é
de 360.180." Deste total, cerca de 165 mil, atua em obras de expansão da
empresa. Segundo a nota, a 'maioria dos projetos da Petrobras é sazonal e têm
relação com a implementação de obras que, além de serem esporádicas, demandam
um grande contingente de pessoas para o desenvolvimento das atividades."
A Petrobras também declarou que está em constante diálogo
com o Ministério Público, bem como com os demais órgãos fiscalizadores, com o
objetivo de contribuir com as autoridades. (ABr)
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