A REFORMA DO ESTATUTO DA
CRIANÇA É A MAIS URGENTE
O horror de amplas camadas da sociedade à virulência com
que jovens, com menos de 18 anos, praticam crimes bárbaros, como o que vitimou
um cardiologista que pedalava pela orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos
cartões postais do Rio de Janeiro, não podem nublar o clima para a discursão da
necessária atualização do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – que se
mostra inadequado, inclusive como forma de proteção dos jovens, que era o seu
objetivo principal quando entrou em vigor a Lei nº 8.060, de 13 de julho de
1990.
Dos pontos importantes do ECA que precisam ser revistos e
atualizados, o que pode ser feito por Lei ordinária, sem exigência de quórum
especial na Câmara e no Senado, é a aplicação de sanções a atos considerados
antissociais, que no Código Penal são elencados como crimes. O recolhimento do
menor de 18 anos pelo prazo máximo de 3 anos é incompatível com o sistema
adotado no Processo Penal em relação ao adulto, como um espaço maior para que a
autoridade judicial estabeleça a melhor forma de punição dos delitos, com
chance do apenado se regenerar. No caso do menor de 18 anos, há uma outra
figura estranha, que é a anistia automática aos que, apreendidos, atinjam a
maioridade dos 18 anos. Ao contrário dos adultos, o menor apreendido sairá do
abrigo sem antecedentes, o que dificultará uma correta avaliação nos casos
muito comuns de reincidência depois dos 18 anos.
No caso específico do médico morto a facadas na Lagoa, um
dos menores apreendidos e apresentado como o autor dos golpes mortais, a
Polícia revelou que desde os 12 anos ele já fora apreendido 15 vezes, sendo
que, em pelo menos 5 casos, ele confessou o uso de uma faca para intimidar sua
vítima.
O médico e governador de S. Paulo Geraldo Alckmin foi a
Brasília propor mudanças no ECA, aumentando a restrição à liberdade para
menores entre 12 e 18 anos para 8 anos, punição que seria preservada mesmo
depois do jovem atingir a maioridade penal.
Esta semana, o Governo reuniu às pressas alguns ministros
para discutir mudanças no ECA diante da possibilidade de a Câmara votar na
próxima semana a emenda constitucional que reduz para 16 anos a maioridade
penal, o que jogaria o ECA no lixo.
Como a pressa é inimiga da perfeição, o mais recomendável,
para o Governo e o Congresso, seria uma revisão do ECA, como propôs o
governador paulista, inclusive com maior atenção ao financiamento e funcionamento
dos abrigos, previsto no Estatuto, para abrigar os menores considerados nocivos
à sociedade.
Afinal, não adianta mudar o nome do Instituto Padre
Severino, no Rio, ou da Fundação Casa, em S. Paulo, se os menores acolhidos são
tratados como marginais irrecuperáveis, sem apoio de equipes multidisciplinares
previstas no ECA, muito menos sem a devida atenção dos pais e responsáveis por
esses menores, que são abandonados pelas famílias. No caso do menor envolvido
no latrocínio na Lagoa, a Polícia apreendeu nada menos que 9 bicicletas nos
fundos da casa em que ele morava.
Por acaso seus pais nunca notaram nada de anormal na
quantidade de bicicletas que ele trazia para casa?
Nenhum comentário:
Postar um comentário