terça-feira, 14 de janeiro de 2014

CULTURA – BOM NEGÓCIO PARA POUCOS
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – o Iphan – acaba de anunciar o projeto que irá transformar as “Folias de Reis” em patrimônio imaterial, o que, em princípio, seria uma forma de amparar os poucos grupos que ainda restam na realização desses festejos tipicamente populares, vindo de Portugal, mas que ali foram introduzidos pelos Mouros, durante o período em que a Península Ibérica (Portugal e Espanha) ficou sob o domínio dos árabes (711-1.031), conforme revelou o folclorista Edson Carneiro (1912-1972) numa palestra realizada no Clube dos Quinhentos em 1956, promovida pelo Centro de Cultura Caxiense, que tinha entre seus fundadores os saudosos pintor e poeta Barboza Leite e o artista plástico Antônio Pacot.
De cunho religioso, as “Folias de Reis” nunca receberam apoio da Igreja Romana, embora esses “folguedos de Natal” tenham recebido o apoio de fazendeiros de Minas Gerais, Espirito Santo e Rio de Janeiro (antigo), pois a disputa entre os grupos acabou se tornando uma guerra particular entre os fazendeiros, que patrocinavam as Jornadas e ajudavam financeiramente a organizá-las. Com a chegada de mineiros e capixabas, atraídos pela antiga Capital Federal, muitas famílias que organizavam as “Folias” acabaram se instalando em Duque de Caxias, que chegou a sediar nada menos de 48 “Folias”, todas organizadas por famílias que repassavam aos herdeiros a obrigação de mantê-las funcionando entre a noite de 24 de dezembro e o dia 6 de janeiro, em que a Igreja Católica comemora a chegada dos Reis Magos a Belém, onde os peregrinos Belchior, Baltazar e Gaspar foram levar presentes para um menino que nascera num estábulo e que se tornaria conhecido como Messias.
Hoje, restam apenas 3 “Folias” em ação em Duque de Caxias, sendo que uma delas, a “Flor do Oriente”, com sede na Vila Rosário, por exemplo, foi fundada em Minas Gerais em 1872, resistindo, portanto, há 5 gerações.
Ocorre que, ao contrário das Escolas de Samba, sustentadas pelos banqueiros do jogo do bicho, dos circos e até de bandas de rock, as “Folias” não tem patrocínio, quer do Poder Público, quer das empresas, pródigas em descontar do Imposto de Renda uma parcela para ser investida em Cultura – inclusive na produção de shows com ingressos caríssimo nas maiores casas de espetáculos do País.
Em declarações publicadas por um jornal da Capital, o representante da “Flor do Oriente”, Rogério Silva de Morais, lembra que o grupo de 30 pessoas que consegue manter viva e atuante a “Flor do Oriente”, tem que contribuir do próprio bolso para a manutenção de instrumentos e confecção das fantasias.
“Às vezes, a gente consegue uma ajuda de custo para as apresentações, mas é muito difícil” explica Rogério.
A última apresentação pública das “Folias”, no Rio de Janeiro, é realizada no dia 20 de janeiro, data consagrada a São Sebastião. A “Festa do Arremate” reúne diversos grupos para a apresentação final, num grande congraçamento, ao contrário do que ocorria no período colonial.  Em janeiro de 2005, por exemplo, faltou combustível para o ônibus da Secretaria de Cultura do município transportar as “Folias” que iriam participar da “Festa do Arremate” em Xerém, onde morava o prefeito da época.
Em Duque de Caxias, o ator e animador cultural Edgar de Souza, (que chegou a ser preso durante a Ditadura), com ajuda do então governador Marcello Alencar, criou e manteve, até a sua more, em maio de 2011, a Federação de Reisados do Estado do Rio de Janeiro, que promovia as apresentações em todo o Estado das Folias na época natalina e a festa do Arremate, no dia 20 de janeiro. Depois da sua morte, as Folias ficaram órfãs, pois não rendem votos ou prestígio político para futuros governantes. Pelo visto, a Iphan chegou um pouco tarde para salvar o que Portugal deixou de bom na antiga colônia.(Texto publicada nesta terça-feira (14) no jornal "Capital, Mercados & Negócios)

Nenhum comentário: