CASOS DE REPERCUSSÃO NA MÍDIA
AUMENTAM DOAÇÕES DE ÓRGÃOS
A família do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago
Andrade, que teve a morte encefálica declarada segunda-feira (10), após ser
atingido por um rojão enquanto cobria a manifestação contra o aumento das
passagens de ônibus na quinta-feira (6), autorizou a doação dos órgão. A
captação foi feita na terça (11). De acordo com o Programa Estadual de
Transplantes (PET), o fígado e os rins de Santiago já foram transplantados e as
duas córneas levadas para o banco de olhos.
A vice-presidente da ONG Aliança Brasileira pela Doação
de Órgãos e Tecidos (Adote) no Rio de Janeiro, Amanda Costa, afirma que quando
um caso de morte encefálica e doação de órgãos tem repercussão na mídia, ocorre
um aumento de autorizações por parte da família dos possíveis doadores. Ela
lembra que, no Brasil, mesmo que a pessoa deixe por escrito o desejo de doar os
órgãos, a ação só é concretizada após autorização familiar.
“Para falar de doação, precisa falar de morte, e as
pessoas têm um pouco de dificuldade para falar disso. Então, todas as vezes que
acontecem casos desses, como o caso da Eloá [em 2008, em Santo André], da
escola de Realengo [em 2011, no Rio de Janeiro], toda vez que você tem alguém
que evolui para um quadro de morte encefálica e há a possibilidade de doação de
órgãos e isso entra na mídia, faz com que a população converse um pouco mais a
respeito disso nas suas casas, com os seus familiares, e facilita na hora da
doação de órgãos, caso essa possibilidade aconteça com você”.
Amanda destaca que no Brasil, de forma geral, as taxas de
doação de órgãos são baixas, e as condições que possibilitam a doação são muito
específicas. “Geralmente são vítimas de acidente, trauma ou acidente vascular
cerebral, o que torna ainda mais difícil. Não são pessoas que estão doente a
muito tempo, e que a família já espera que evolua para um quadro de morte, mas
é alguém que saiu de casa bem, sofre um acidente e daqui a pouco chega a
notícia para a família, que ela evoluiu para um quadro de morte encefálica e há
a possibilidade de doação. Então a família já está em um contexto de perda,
onde ainda está sendo solicitada em um momento difícil, a doação. Então, isso
torna um pouco mais difícil a avaliação da família”.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde
(SES), a negativa familiar ainda é o principal empecilho para a doação de
órgãos, chegando a quase 50% no estado. Os principais motivos são a falta de
consenso entre os parentes e a falta de compreensão de que a morte encefálica é
irreversível. Os dados da SES mostram que o estado tem mais de 1.900 pessoas à
espera de um transplante e este ano foram feitas 27 captações até o dia 10 de
fevereiro.
Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos
(ABTO) apontam que o percentual de doadores efetivos entre os potenciais
doadores no Rio de Janeiro passou de 18,7% do total em 2003 para 50% no ano
passado, com dados contabilizados até setembro. Em 2003 foram 119 doadores,
entre 637 pacientes com morte encefálica. Em 2013, até setembro, o número de
doadores potenciais aumentou para 637, mas das 323 entrevistas realizadas com
parentes, 160 doações foram autorizadas e 163 recusadas.
Segundo a SES, o Programa Estadual de Transplantes foi
criado em 2010, e em dois anos conseguiu tirar o Rio de Janeiro da última
posição no país em captação de órgãos, passando-o para o segundo lugar. Em 2013
foram 225 doadores e 1.434 transplantes no estado, entre cirurgias de coração,
fígado e rim – órgãos que podem vir de doadores vivos ou mortos - mais medula
óssea, córnea e osso. (Akemi Nitahara -
Agência Brasil)
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