LEI ANTICORRUPÇÃO
NÃO PUNE OS ABUSOS COM O DEVIDO RIGOR
Após a repercussão
das manifestações populares do último dia 15, a Presidente da República, Dilma
Rousseff, lançou ontem pacote de medidas anticorrupção que não contempla as
correções necessárias à Lei Anticorrupção, segundo a especialista no assunto,
Lucieni Pereira. Em entrevista concedida ao site Contas Abertas, a presidente da
Associação Nacional dos Auditores de Controle Externo dos Tribunais de Contas
do Brasil (ANTC) acredita que a lei foi aprovada às pressas como uma espécie de
resposta às manifestações de junho de 2013, mas a legislação até agora não se
demonstrou efetiva no combate à corrupção. Para ela, se não houver a alteração
necessária, o texto atual pode facilitar e até mesmo incrementar a corrupção.
Há um mês, o Contas
Abertas, em conjunto com as Associações que representam auditores de controle
externo (ANTC e AUD-TCU), representou ao procurador do Ministério Público de
Contas junto ao Tribunal de Contas da União, Júlio Marcelo de Oliveira, que
pediu cautelarmente a suspensão da celebração desses acordos pela
Controladoria-Geral da União com empresas investigadas pela Lava-Jato. O caso
teve ampla repercussão na imprensa, chegando ao Congresso Nacional e ao Supremo
Tribunal Federal.
No último dia 10, o
senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) apresentou Projeto de Lei para alterar a Lei
Anticorrupção (PLS nº 105, de 2015). Pela proposta, o Ministério Público deverá
homologar os pedidos de acordo de leniência.
O Partido Social
Liberal (PSL) também ajuizou ação direta de inconstitucionalidade no STF para
questionar artigos da lei que estabelecem responsabilização objetiva da pessoa
jurídica envolvida em fraude de licitação. Para o autor da ação, a Teoria do
Risco Integral viola garantias constitucionais.
O presidente da
Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP), entidade do terceiro grau
que congrega associações e federações de associações que representam mais de
700 mil servidores públicos em todo Brasil, também pediu apoio às ações das
entidades e do procurador de contas que tentam barrar a celebração de acordos
de leniência com empresas investigadas pela Lava Jato antes da conclusão das
investigações do MPF.
Para Lucieni Pereira,
o Projeto Ferraço cria as condições para reabrir a discussão com as diversas
instituições de controle, sociedade civil e entidades representativas dos
profissionais que têm a missão de combater a corrupção, tais como auditores de
controle externo, policiais, procuradores e magistrados. Segundo ela, a proposta
explicita a única interpretação que se harmoniza com a Constituição de 1988 no
que se refere à celebração de acordos de leniência após o início de
investigações pelo Ministério Público ou Polícia, em especial nos casos em que
houver informações protegidas pelo sigilo.
Ela destaca que o
projeto elimina a polêmica criada pelos órgãos do Poder Executivo, como a CGU E
A AGU, que insistem em se antecipar para celebrar acordos de leniência com a
finalidade de “salvar” empresas que fraudaram licitações, como se esse fosse o
principal objetivo da Lei Anticorrupção.
“Agir assim é
praticar verdadeiro estelionato contra a crença de segmentos expressivos da
sociedade civil que participaram, em 2012, da 1ª Conferência Nacional de
Transparência e Controle Social (CONSOCIAL) promovida pelo Governo Federal e
aprovaram moções de apoio à edição de uma lei anticorrupção que
responsabilizasse pessoas jurídicas que fraudassem licitações.
Além do mais, o
projeto Ferraço garante que as investigações ocorram com tranquilidade e
segurança jurídica, sem interferências descabidas do Poder Executivo.
“Estamos diante do
maior caso de corrupção da história da humanidade [o petrolão], de proporções
globais ainda desconhecidas, mas pelo que se sabe é suficiente para assustar e
gerar indignação nos cidadãos, tão carentes de acesso a serviços dignos nas
áreas de saúde, educação, saneamento básico, transporte, segurança pública, e
outros – afirma a presidente da ANTC.
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