SUSPENSOS OS EXAMES DE PACIENTES
COM CÂNCER POR FALTA DE DINHEIRO
Pacientes com doenças crônicas, como câncer da tireoide e
linfoma, estão impossibilitados de fazer exames e tratamento pela falta de
radiofármacos em vários hospitais públicos e particulares do país, depois quer
o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), responsável pela
produção dessas substâncias de componente radioativo, interrompeu o
fornecimento há dois dias, devido a problemas com a compra de insumos
importados, como o iodo-131 e o gálio-67, matérias-primas na medicina nuclear
para o diagnóstico e terapia de doenças.
O Ipen é gerido técnica e administrativamente pela Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI). No Hospital de Câncer de Barretos, no interior de São Paulo,
em média 20 pacientes são prejudicados por dia com a falta dos insumos.
O coordenador do serviço de medicina nuclear, Marcelo José
dos Santos, explicou que alguns pacientes tiveram que interromper o tratamento
para a realização dos exames: “Para o tratamento do câncer de tireoide, por
exemplo, o paciente fica submetido a um preparo especial durante um mês, sem
receber medicamentos, entra em uma situação especial chamada de
hipotireoidismo. Esses pacientes já estavam aqui quando souberam que não
poderiam realizar o procedimento”.
O superintendente do Ipen, José Carlos Bressiani, informou
que a interrupção foi gerada por atraso no pagamento de um dos fornecedores, no
Canadá. A perspectiva, segundo ele, é de que o abastecimento dos serviços seja
regularizado no decorrer da semana e amanhã cheguem ao Instituto o gálio e o
iodo. “Devíamos cerca de US$ 1 milhão para essa empresa. Felizmente, o
orçamento saiu na semana passada, estamos saldando as dívidas e eles já vão
começar a nos fornecer novamente”, disse Bressiani.
O governo detém o monopólio da produção dos radiofármacos,
mas o Brasil depende da importação de insumos radioativos e a alta do dólar tem
encarecido ainda mais esses produtos, prejudicando o fornecimento. Para piorar,
Bressiani explicou que o repasse do orçamento anual liberado pelo MCTI, de
cerca de R$ 92 milhões, para o instituto é inferior ao que foi gasto no ano
passado.
“Tivemos aumento dos produtos em dólar de cerca de 40% e
tivemos o aumento do valor do dólar. Precisávamos de um aumento bem superior a
esse que foi alocado. É insuficiente para pagar as contas dos insumos nacionais
e internacionais e o custeio dos gastos diários do instituto. Precisaríamos de
ao menos de R$ 140 milhões”, explicou Bressiani. O aumento, segundo ele, é a
única solução em curto prazo. Caso não haja mais repasses, o superintendente
acredita que o dinheiro acabe a partir de setembro.
Essa é a segunda vez no ano que o fornecimento foi
interrompido. Em março, funcionários entraram em greve para protestar contra
falta de recursos.
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