DOLEIROS DIZEM QUE LAVAGEM DE
DINHEIRO ERA FEITA DENTRO DA LEI
Doleiros como Alberto Youssef e Nelma Kodama, protagonistas
da Operação Lava Jato, se beneficiaram de uma medida provisória convertida pelo
Congresso na Lei n.º 11.371, de 2006, para enviar milhões de dólares ao
exterior por meio de importações fraudulentas, sem controle dos órgãos
públicos. A norma foi aprovada para desburocratizar a política cambial e
facilitar as operações de comércio exterior, mas, como efeito colateral, abriu
uma janela de oportunidade para esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro.
Pela regra anterior, ao fazer uma importação o empresário encomendava o produto
e apresentava documentação detalhada à Receita Federal para recolher os
impostos devidos. Para pagar a encomenda ao fornecedor estrangeiro, era
necessário um contrato de câmbio, cujas informações eram, por lei, informadas
ao Banco Central.Um link entre os sistemas dos dois órgãos permitia checar se o pagamento correspondia à entrada de mercadoria no país e se a quantidade de produtos batia com o valor da operação. Ao simplificar o processo, não há mais a troca de informações que permite a conferência dos dados.
Na visão de
investigadores, isso favoreceu a lavagem de dinheiro por meio da simulação de
importações e exportações. "Isso permitiu que eles (doleiros) fizessem
importações a rodo: milhões e milhões, sem jamais entrar mercadoria e sair o
dinheiro", constata o procurador da Lava Jato Deltan Martinazzo Dallagnol,
citando as operações de Youssef. "Hoje é muito mais fácil simular
contratos de compra e venda para o exterior, porque não há mais a
checagem", critica o delegado da PF Luís Flávio Zampronha, especializado
na investigação de crimes financeiros que atuou no inquérito do mensalão.

Graças à brecha no sistema, segundo investigadores, Youssef e um de seus parceiros, Leonardo Meirelles, usaram as empresas Labogen Química e Indústria de Medicamentos Labogen para fazer 1.900 importações fictícias. Com isso, remeteram US$ 113 milhões para contas em Hong Kong.
Já os repasses de empreiteiras para empresas de Youssef eram enviados por via bancária ao exterior e bancavam as importações da 25 de Março, que eram subfaturadas para não recolher impostos. "Essa é a mágica da Lava Jato. Você tem duas coisas simultâneas acontecendo. Por isso que o follow the money (siga o dinheiro) não funciona (na investigação), porque o dinheiro não tem nome", diz o procurador.
Em depoimento à CPI da Petrobras, a doleira Nelma Kodama, condenada por operar no mercado clandestino de câmbio e fazer importações fraudulentas, afirmou ter se beneficiado da falta de controle das instituições do mercado financeiro. "Toda essa corrupção, tudo isso que está acontecendo das empreiteiras, da Petrobras, tudo isso tem a participação do Banco Central, das instituições financeiras", acusou.
Em nota, o Banco Central informou que a lei deixou mais eficiente as operações de comércio exterior e que a legislação brasileira "atende a todas as recomendações
Nenhum comentário:
Postar um comentário