NOVO CÓDIGO AMPLIA A CENSURA
DO GOVERNO À POLÍCIA FEDERAL
Com a Operação Lava Jato a pleno vapor, a cúpula da Polícia
Federal lançou um Código de Ética para delegados e agentes da instituição. As
novas regras foram publicadas no boletim interno da última segunda-feira e
surpreenderam policiais. Para delegados e agentes, o código reforça a mordaça
imposta pelo governo federal aos policiais e fere garantias constitucionais
como o direito à liberdade de expressão.
As restrições surgem em momento no qual o governo federal
tenta controlar as informações divulgadas sobre a Operação Lava Jato, que
motivou a abertura de investigações contra 50 políticos no Supremo Tribunal
Federal (STF) depois de revelar um megaesquema de corrupção na Petrobras.
Segundo o site da revista Veja, o novo códigoo prevê
punição a servidores se concederem entrevistas a jornalistas sem acompanhamento
da assessoria de imprensa da Polícia Federal. Menciona também proibições
genéricas, como impedir o policial de "divulgar manifestação política ou
ideológica conflitante com o exercício das suas funções".
"O Código de Ética é um reforço na tentativa de
amordaçar o policial. Reflete uma preocupação muito grande do órgão com a
pressão política", afirmou o presidente da Associação dos Delegados da
Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio Ribeiro.
Se for "conivente" com uma entrevista
desacompanhada da assessoria de imprensa ou com uma manifestação ideológica, o servidor
responde por "solidariedade". Outro dispositivo que preocupa
policiais é a proibição de "expor, publicamente, opinião sobre a
honorabilidade e o desempenho funcional de outro agente público".
Para o diretor da Federação Nacional dos Policiais Federais
(Fenapef), Flávio Werneck Meneguelli, o código limita ainda mais o direito do
policial de "expor opinião" e vai na contramão da
"democratização" das forças policiais brasileiras. "Dificulta
ainda mais o fornecimento de informações", critica.
As regras foram decididas pelo Conselho Superior de Polícia
(CSP), em reunião do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra,
com sete diretores, cinco superintendentes regionais e um adido policial.
Procurada, a Polícia Federal afirmou que uma decisão do
Tribunal de Contas da União (TCU) exigia que cada órgão federal montasse uma
comissão de ética. A corporação policial diz ainda que a única punição para
quem desrespeitar o Código de Ética será a "censura ética".
De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, o
código apenas repete normas internas da Polícia Federal e proibições do Código
de Ética dos Agentes Públicos do Ministério da Justiça e do Código de Ética
Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.
Policiais avaliam que as restrições da corporação surgem
pelo fato de o diretor-geral da PF ser nomeado pelo ministro da Justiça.
Ribeiro, da ADPF, defende a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional
412/2009, que foi desarquivada neste ano na Câmara dos Deputados, para que a
Polícia Federal tenha orçamento autônomo e o diretor da instituição tenha um
mandato de atuação como o presidente do Banco Central. "O diretor-geral
precisa ter mandato, para que não possa ser exonerado a qualquer instante por
desagradar o político A ou B", afirmou Ribeiro.
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