PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA BAIXADA ESTÁ VIRANDO PÓ
A Estrada de Ferro Mauá, originalmente denominada Imperial Companhia de
Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, foi a primeira ferrovia a
ser estabelecida no Brasil. Foi inaugurada em 30 de abril de 1854 em seu trecho
inicial, ligando o Porto de Mauá (antigo Porto de Estrela) a Fragoso, num
trecho de 14,5 km, mais tarde prolongada, chegando a 15,19 km. Foi construída
pelo empresário Irineu Evangelista de Sousa, que mais tarde recebeu do
Imperador Pedro II, o título de Barão de Mauá pelo seu empenho na
industrialização do Brasil.
Se ainda existisse, a Estrada de Ferro Mauá estaria completando 160 anos
nesta dia 30 de abril. Por esse motivo, um grupo de pesquisadores e
historiadores da Baixada Fluminense decidiram transformar a data no “Dia da
Baixada”, como forma de tentar recuperar o patrimônio histórico e cultural da
região, principalmente pelo número de igrejas e capelas construídas ao longo do
período colonial, bem como recontar a história da Baixada Fluminense, expurgada
dos livros didáticos de História do Brasil.
A primeira tentativa de reescrever a História da Baixada Fluminense foi
feita por um grupo de professores da FEUDUC – Fundação Educacional Universidade
de Duque de Caxias, criada por um grupo de figuras importantes da vida política
e econômica da cidade em 1968, sob a liderança dos médicos Moacyr Rodrigues do
Carmo e Ricardo Augusto de Azeredo Vianna, ambos já falecidos, e dos
jornalistas Ruyter e Zoelzer Poubel, fundadores do jornal Folha da Cidade e
ainda vivos. O primeiro passo foi criar o Curso de História da Baixada
Fluminense, o primeiro curso de graduação em História de nível universitário da
região e ponto de partida para diversas descobertas, inclusive de um sambaqui ao
lado da própria FEUDUC {local sagrado dos índios Tamoios, que habitavam a
região). Instalara inicialmente no 25 de Agosto, a instituição ganhou uma
extensa área da antiga Fazenda S. Bento, criada pelos monges do Mosteiro de São
Bento, no Rio de Janeiro, para o cultivo da cana de açúcar, que, no período
colonial, era transformada em aguardente ou açúcar, que eram exportados para a
Europa através de Portugal.
Até que, no início do Século XXI, a direção da instituição entrou em
guerra com os professores da cadeira de História da Baixada Fluminense, muito
procurada por estudantes da região que pretendiam se graduar em História, com
foco na Baixada Fluminense. Na ruptura com os professores, a direção da Feuduc chegou
a lacrar a sala onde os professores se reuniam para discutir temas de interesse
dos estudantes e os resultados das suas pesquisas de campo. Mesmo presidida por
um advogado e sem mandado judicial, a direção da Feuduc apreendeu todo o material
dos professores que faziam pesquisas sobre os sítios históricos da região.
A crise de identidade da Feuduc foi apenas a ponta do iceberg que ameaça
os sítios históricos da Baixada. Pela proximidade com a Capital, a Baixada
Fluminense se tornou objeto de cobiça da indústria da construção civil, que vê
na região uma nova “Serra Pelada”. E a busca por áreas para construção de
hotéis, centros comerciais e até conjuntos residenciais de padrão Fifa acabou destruindo
locais importantes para a História da região, como a antiga residência do
industrial e líder político Tupynambá de Castro (foto acima), que cedeu a casa para a
implantação da Prefeitura e do Fórum de Duque de Caxias, em 31 de dezembro de
1943. Também era do velho líder do PSD do antigo Estado do Rio o prédio da
fábrica de macarrão alugada na década de 50 do século passado pelo então
prefeito Francisco Correia para sediar a prefeitura, na atual Praça Governador Roberto
Silveira. Era um forma simbólica do saudoso Chico da Bomba se livrar da pressão
do deputado Tenório Cavalcante, dono do sobrado na atual Av. Governador Leonel
Brizola, onde funcionavam, no pavimento superior, a Câmara de Vereadores e o
Gabinete do Prefeito (foto abaixo)..
Os atrasos sistemáticos dos aluguéis eram pretexto mais
do que suficientes para que o “Homem da Capa Preta” controlasse os passos do
prefeito, que era do PSD de Amaral Peixoto e Tupynambá de Castro. A
desapropriação do imóvel só ocorreu no final do primeiro Governo do Dr. Moacyr
do Carmo.
Mais recentemente, o patrimônio histórico foi afetado pela inacreditável
venda da antiga Matriz de Santo Antônio, na rua José de Alvarenga, inaugurada
em 1937 e substituída por um centro comercial, o mesmo ocorrendo com a antiga
residência de Tupynambá de Castro, até então abrigando um hotel de alta
rotatividade em pleno centro da cidade, que deu lugar a uma loja de
departamentos.
Outro sítio importante posto no chão, por registrar a transformação do
município em polo industrial, foram os galpões que abrigaram, desde o final da
II Guerra Mundial, uma fábrica de linho e outra de botões de madrepérola (Grupo
Braspérola), por falta de água, embora fossem vizinhas (Rua Francisca Tomé) dos
4 primeiros reservatórios da atual Cedae, no Morro das Cabras, no bairro
Centenário. Junto com as duas empresas desativadas, foram ao chão, na base da
marreta, os galpões pertencentes à Cia. União Manufatora de Tecidos (foto ao lado), que,
durante décadas, produziu sacaria de juta, fundamental na exportação de café e
açúcar.
Outros dois pontos históricos importantes, que estão dependendo de maior
agilidade do Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – para
não irem ao chão são as Igrejas de Nossa Senhora do Pilar – frequentada por Tiradentes como responsável
pela fiscalização do ouro desembarcado no Porto do Pilar, vindo em lombo de mulas
de Outro Preto (Vila Rica) – a Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim,
em Magé (foto acima), onde foi batizado Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, além
da sede da Fazenda São Bento e a vizinha Capela de Nossa Senhora do Rosário.
Nenhum prefeito dos municípios da Baixada Fluminense – que integravam a
Vila de Estrela, uma das seis primeiras elevadas a tal posição no início da
colonização do Brasil, cujas terras iam das margens do rio Meriti até às
margens do rio Paraíba do Sul, nas proximidades de Juiz de Fora (MG) – promoveu
alguma solenidade para lembrar a importância da heróica tentativa de Irineu
Evangelista de Souza de, a exemplo da Europa, EE.UU. e Ásia, implantar o
transporte ferroviário num país continental como o nosso. A única exceção foi o
prefeito de Magé, antiga Vila Estrela, Nestor Vidal que conquistou o seu
segundo mandato prometendo investir na restauração da ferrovia criada pelo
Barão de Mauá, que seria importante para a exploração turística da Serra de
Petrópolis e seus arredores. Até o momento, porém, o projeto da nova-velha
ferrovia não saiu do papel. Por conveniência das autoridades locais, a festa
foi antecipada para o último sábado (26), na Praia de Mauá, antigo Porto de
Estrela, nome original de Magé.
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