TRANSAÇÃO ENTRE O TESOURO E O
BNDES DEIXA UM ROMBO DE R$ 92 BI
A renegociação de R$ 238
bilhões de dívidas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) com o Tesouro Nacional custará R$ 92 bilhões para as contas públicas
nos próximos anos. Segundo economistas, a troca do indexador da dívida aumenta
os gastos do Tesouro com os juros, tornando mais difícil o controle do déficit nominal
– resultado negativo das contas públicas após o pagamento de juros.
Desde 2009, o Tesouro
emprestou R$ 305 bilhões ao BNDES por meio de injeções de títulos públicos. Com
as vendas dos papéis no mercado, o banco de fomento consegue dinheiro para
aumentar o capital. A instituição empresta aos empresários com correção pela
taxa de juros de longo prazo (TJLP), atualmente em 5% ao ano. No entanto, até
agora, estava obrigada a quitar os empréstimos do Tesouro com correção pela
Selic, taxa básica de juros, hoje em 11% ao ano.
Por meio de uma série de
portarias editadas nos últimos meses, o Ministério da Fazenda trocou a Selic
pela TJLP como indexador da dívida do banco. As medidas, na prática,
transferiram do BNDES para o Tesouro Nacional a tarefa de arcar com o custo da
diferença entre as duas taxas. Segundo o Tesouro, a mudança evita descasamentos
no balanço do banco que poderiam prejudicar a instituição no futuro. No
entanto, economistas ouvidos pela Agência Brasil alertam para o aumento dos
juros da dívida pública.
Professor de MBA da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), Robson Gonçalves diz que a mudança traz mais transparência para a
política de subsídios ao banco de fomento. “Quando o Tesouro trocou o
indexador, assumiu que os aportes de títulos públicos são uma política do
governo, não do banco. O ônus deixa de ser do BNDES e passa para o Tesouro”,
explica. Ele, no entanto, adverte que a medida torna ainda mais difícil a
administração das contas públicas. “O Tesouro assumiu um custo extra sem
aumentar o superávit primário [economia para pagar os juros da dívida
pública]”, acrescenta.
Os custos são difíceis de
calcular porque representam a diferença entre o valor total da dívida
renegociada corrigida pela TJLP e a taxa de juros implícita da dívida pública,
na prática, um pouco maior que a Selic. No entanto, usando os juros básicos da
economia como aproximação, o ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo
Freitas, calculou em R$ 92 bilhões a quantia que o Tesouro deixará de receber
do BNDES nos próximos anos. “É quase a meta de superávit primário para este
ano, de R$ 99 bilhões”, adverte.
Teoricamente, os empréstimos
do Tesouro ao BNDES não impactam a dívida líquida do setor público porque a
transação ocorre dentro do próprio governo. Ao descontar o que o Tesouro deve e
o que tem de receber, a conta fica zerada. No entanto, Freitas diz que o
governo deveria mudar a contabilidade após a troca dos indexadores.
“Na verdade, o Tesouro não tem
mais direito a receber exatamente o que emprestou, mas R$ 92 bilhões a menos os
títulos emprestados fossem registrados pelo valor de mercado. Só que o governo
certamente não fará isso e continuará subsidiando empréstimos baratos a
empresários, que são quem mais se beneficiam desse mecanismo”, critica o
ex-diretor do Banco Central.
Apesar de considerar que a
mudança no indexador tornou mais clara a relação entre o Tesouro e o BNDES,
Gonçalves, da FGV, diz que o governo poderia aumentar os investimentos do setor
privado sem pressionar as contas públicas. “O investimento dos empresários está
escasso por causa das incertezas em relação aos rumos da economia brasileira.
Se o governo melhorasse o ambiente econômico, aumentaria os investimentos com
mais eficiência sem ampliar os subsídios do Tesouro Nacional”, opina. Wellton Máximo –Agência Brasil)
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