domingo, 23 de fevereiro de 2014

OAB/RJ LEMBRA O SEQUESTRO
DE FERNANDO SANTA CRUZ 
A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ) fez seção especial na sexta-feirae (21) para homenagear Fernando Santa Cruz, um dos símbolos da resistência estudantil à ditadura militar, desaparecido há 40 anos. A homenagem reuniu parentes e representantes da Comissão Estadual da Verdade (CEV-RJ), do grupo Tortura Nunca Mais e do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Fernando Santa Cruz. Na mesma seção, foi relançado o livro “ONDE ESTÁ MEU FILHO?”, de 1985, escrito pelos jornalistas Chico de Assis, Cristina Tavares, Jodeval Duarte, Gilvandro Filho, Nagib Jorge Neto e Glória Brandão.
Um dos irmãos de Fernando, João Artur Santa Cruz, lembrou que na véspera (20) ele faria 66 anos, e neste domingo (23) fará 40 anos do seu desaparecimento.
“Estamos relançando o livro, com documentos que a gente pegou desde a época do desaparecimento até a presente data. Fala da busca que mamãe fez à procura de Fernando nos cárceres do país todo. No novo livro sai o depoimento que um torturador daqui, o delegado de polícia Carlos Guerra. Ele conta que pegou Fernando, Eduardo Collier, Davi Capistrano e mais duas pessoas, e tocou fogo na usina, em Campos”, norte do estado do Rio.
Natural de Olinda (PE), Fernando Santa Cruz participou do movimento estudantil secundarista e chegou a ser preso em 1967, em uma passeata contra o acordo MEC-Usaid. Depois, ele estruturou a Associação Recifense dos Estudantes Secundaristas e, já sob a égide do Ato Institucional nº 5 (AI-5), se mudou para o Rio de Janeiro, onde cursou direito na Faculdade Federal Fluminense e atuou no DCE. Em 1972, casado e com o filho recém-nascido, passou em concurso da Companhia de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo e se mudou para a capital paulista.
De passagem pelo Rio, no carnaval de 1974, Santa Cruz saiu da casa do irmão Marcelo, para visitar amigos, e nunca mais foi visto. João Artur explica que a Comissão da Verdade do Estado de Pernambuco (CVE-PE) fez um dossiê e entregou na quinta (20) para a mãe dele, dona Elzita.
“A gente encontra várias coisas que já tinha nesses 40 anos de busca, nomes de torturadores, a data certa da prisão dele aqui, 23 de fevereiro de 1974, no Estado do Rio, no DOI-Codi [Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna]. Ele estava preso e desapareceu dali de dentro. Mataram ele ali dentro. Os torturadores da época ocultaram o cadáver, até hoje não devolveram o cadáver para a gente poder fazer uma sepultura digna para Fernando. A mãe, ainda viva, com100 anos, continua fazendo essa pergunta para as autoridades deste país: Onde está o meu filho?”
De acordo com João Artur, Fernando não era ligado à luta armada, mas era membro da Ação Popular Marxista-Lenista (AP). Quando Fernando desapareceu, seu filho Felipe tinha 2 anos, e hoje é o presidente da OAB-RJ. (Akemi Nitahara - Agência Brasil)

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