EMPRESÁRIOS PRESOS
POR USAREM
PRODUTOS CANCERÍGENOS
NO LEITE
Os donos de duas empresas de laticínios do Rio Grande do
Sul foram presos na manhã desta quinta (8), acusados de ordenar a adição de
produtos como soda cáustica, bicabornato de sódio e água oxigenada ao leite
produzido nas fábricas Pavlat, no município de Paverama (RS); e Hollmann, em
Imigrante (RS). Além dos empresários, a Brigada Militar também deteve o
responsável pela política leiteira da Hollmann.
As prisões e a apreensão de documentos fazem parte da
quinta fase de investigações da Operação Leite COMPEN$ADO, deflagrada há
exatamente um ano pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, com o apoio do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Receita Estadual. Ao
todo, a Justiça expediu 15 mandados de busca e apreensão e três de prisão que
estão sendo cumpridos nas cidades gaúchas de Paverama, Imigrante, Teutônia,
Arroio do Meio, Encantado, Venâncio Aires, Marques de Souza, Travesseiro, Novo
Hamburgo e Cruzeiro do Sul. Também foram expedidos mandados de apreensão para
34 caminhões usados para transportar o leite adulterado.
Segundo os promotores responsáveis por coordenar a
operação, Mauro Rockenbach e Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, os produtos
adicionados ao leite eram usadas para corrigir a acidez do leite cru que, por
estar se deteriorando, seria inutilizado. As empresas investigadas adquiriram
esses produtos químicos em larga escala, o que chamou a atenção das
autoridades.
Noventa e um laudos de testes realizados com os produtos
detectaram que o leite não atendia às normas de qualidade exigidas pelo
Ministério da Agricultura. Além da acusação de adicionar água ao leite cru
refrigerado, a Hollmann também é suspeita de colocar à venda produto em estado
de deterioração, causada justamente pela proliferação de micro-organismos. Já
nas amostras de leite UHT da Pavlat foi constatado que, mesmo dentro da
validade, o produto já estava em estado de decomposição. O Ministério Público
garante que todos os lotes do produto da Pavlat sob suspeição já foram
recolhidos dos mercados.
Treze pessoas foram presas nas quatro primeiras fases da
Operação Leite Compen$ado. Dessas, quatro já estão respondendo em liberdade.
Até o momento, 26 pessoas foram denunciadas por participar do esquema. Seis dos
15 denunciados na primeira fase da operação inclusive já foram condenados em
primeira instância, na Comarca de Ibirubá. De acordo com o Ministério Público
estadual, são eles João Cristiano Pranke Marx (pena de 18 anos e seis meses de
reclusão em regime fechado); Angélica Caponi Marx (nove anos e sete meses de
reclusão em regime fechado); João Irio Marx (nove anos e sete meses de reclusão
em regime fechado); Daniel Riet Villanova (11 anos e sete meses em regime
fechado); Alexandre Caponi (nove anos, três meses e 12 dias em regime fechado)
e Paulo Cesar Chiesa (dois anos e um mês de reclusão em regime semiaberto).
As ações civis coletivas de consumo contra as pessoas
físicas e jurídicas envolvidas na fraude já contabilizam 117 bens
indisponibilizados, sendo 90 veículos e 27 imóveis, avaliados em
aproximadamente R$ 10 milhões. Além disso, durante a toda a operação, já foram
apreendidos 32 caminhões usados para transportar o leite adulterado. Como
resultado das assinaturas dos termos de Ajustamento de Conduta com indústrias
de laticínios, já foram revertidos para órgãos públicos, através de doações de
bens, cerca de R$ 8 milhões.
A Agência
Brasil tentou ouvir os representantes da Hollmann e da Pavlat por
meio dos telefones informados nos sites das
empresas, mas não conseguiu contato. A reportagem ouviu a professora da
Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, Mirna Gigante. De acordo com a
especialista, a legislação brasileira proíbe a presença, em qualquer volume,
dos produtos mencionados pelo Ministério Público.
"No leite cru não é permitida a adição de nenhum
produto, seja durante a coleta ou o transporte em caminhões refrigerados. Ou
seja, dos postos de captação até chegar à indústria processadora, nenhum
conservante pode ser adicionado. Já durante o processamento do leite UHT
[ou longa vida, vendido em caixas], a legislação permite que a indústria
adicione o citrato ao leite UHT, de acordo com a Portaria 370, de 1997, do
Ministério da Agricultura. Soda cáustica, bicarbonato de sódio, água oxigenada
[...] Nada disso é para ser adicionado e [se encontrados no leite] indicam que
houve uma adição fraudulenta desses compostos". (Abr)
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