SEM O DISFARCE DOS AUTOS DE RESISTÊNCIA
CRESCE O NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO RIO
O número de homicídios decorrentes de intervenção policial aumentou de
38, em março de 2013, para 47, em igual mês de 2014. Os dados foram divulgados na
sexta-feira (2) pelo Instituto de Segurança Pública, reconhecendo que os
números anteriores eram mascarados com um sub índice: os autos de resistência, que
se referiam a mortes em supostos confrontos de policiais com marginais.
Com o
expurgo dos autos de resistência, no caso dos dolosos, houve aumento de 23,6%:
foram 411 em março de 2013 e 508 em igual período deste ano. Nos casos de
latrocínio (roubo seguido de morte), o total caiu de 11 para nove. Já o número
de ocorrências de lesão corporal seguida de morte aumentou de um para cinco.
Os dados mostram que os roubos a residência caíram 10,1% – de 139 para
125. Os estupros diminuíram 5,7%, chegando a 479 casos em março de 2014. Foram
registrados 2.757 casos de estelionato, redução de 9,9%. O balanço aponta
também que, em março de 2014, foram 2.387 apreensões de drogas, 4,7% a menos do
que em igual período do ano passado. Além disso, foram apreendidas 759 armas,
um aumento de 5,6%; e 2.355 veículos foram recuperados, 45,4% a mais.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, anunciou que, a partir
desta segunda-feira (5) 2 mil homens vão reforçar o policiamento nas ruas. De
acordo com ele, apesar dos índices de violência, o quadro geral da segurança
pública no estado tem melhorado com o trabalho feito nas unidades de Polícia
Pacificadora (UPP).
“Se nós olharmos o tempo histórico de 2007 para cá, o filme ainda é
muito bom. Mas se fizermos alguns cortes, se nós analisarmos algumas
fotografias, nós temos situações, sim, difíceis, mas esperamos agora gerar
ostensividade e trazer esses índices de criminalidade para patamares menores.”
Quanto ao número de homicídios decorrentes da ação policial, Beltrame
afirma que o dado também vinha apresentando queda na faixa de 30%. Porém, a
necessidade de operações policiais pode ter levado a esse aumento. “São alguns
trabalhos [em] que a polícia teve que ir para o confronto em certas áreas”,
disse. “Isso só dá a resposta que a UPP é a saída. Só que não dá para fazer UPP
a toda hora, em todo lugar, então a gente tem que fazer operações temporárias.
E quando você entra em alguns lugares, historicamente conflagrados, está
sujeito a se fazer isso [auto de resistência].”
O assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, Alexandre
Ciconello, avalia que o número de homicídios em geral está muito alto. “O
índice de resolução dos homicídios é muito baixo, ainda mais os homicídios
decorrentes de intervenção policial, chamados autos de resistência. É muito
difícil você ter uma investigação que aponte realmente se houve uso abusivo da
força nesses casos, se foi uma execução sumária, se realmente foi um homicídio
que possa ter sido em decorrência da intromissão policial que possa ter sido
legítima.”
Para ele, a polícia precisa mudar a forma de atuar para respeitar os
direitos dos cidadãos. “O policiamento tem que ser orientado também numa
perspectiva de respeitar os direitos dos cidadãos, e não pelo enfrentamento,
que tem provocado mortes, balas perdidas. A população em geral, fica muitas
vezes no meio, de um lado [estão] as facções criminosas e do outro uma polícia
que age de forma a não saber respeitar os parâmetros internacionais de uso
proporcional dessa força.” Segundo Ciconello, o índice de resolução dos
homicídios no Brasil fica entre 5% a 8%. (ABr)
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