PARA DILMA A IMPRENSA NÃO
PODE INVESTIGAR O GOVERNO
A presidente Dilma Rousseff criticou os novos
vazamentos de trechos dos depoimentos à Justiça do ex-diretor da Petrobrás
Paulo Roberto Costa, delator de esquema suspeito de pagamento de propinas na
estatal. Segundo reportagem do Estado de S. Paulo, após a Procuradoria-Geral da
República lhe negar acesso ao conteúdo das declarações de Costa, a presidente
disse que vai pedir ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, o
compartilhamento das informações.
“Quero ser informada se no governo tem alguém envolvido”,
disse Dilma, que reclamou do fato de detalhes dos depoimentos - inclusive nomes
de envolvidos - terem “vazado” para os meios de comunicação.
Na quarta-feira (18), o Jornal Nacional, da TV Globo,
revelou que Costa teria admitido à Justiça o recebimento de R$ 1,5 milhão em
propina na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, nos Estados Unidos.
Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), a operação resultou em um prejuízo
de US$ 792,3 milhões para a Petrobrás.
Questionada sobre o tema, Dilma argumentou que só pode
confiar em informações oficiais: “Disse pra quem? Se você me disser para quem
ele disse, quem disse e como é que disse, eu te respondo. Caso contrário...”,
respondeu a presidente. “Eu não reconheço na imprensa o status que tem a
Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo (Tribunal Federal). Não é
função da imprensa fazer a investigação; a função é divulgar”, afirmou Dilma.
Desde o dia 29 de agosto, Paulo Roberto Costa está
prestando uma série de depoimentos em um acordo de delação premiada no qual tem
revelado suspeitas de crimes de pagamento de propina a dezenas de políticos,
inclusive do PMDB e do PT, os dois principais integrantes da base aliada.
O caso corre em segredo de Justiça, mas alguns nomes
começaram a ser veiculados em reportagens como tendo sido citados pelo delator.
Dentre eles, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB); os presidentes
da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL); os senadores do PP Ciro Nogueira (PI) e Francisco Dornelles (RJ); o
líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ); os governadores do Ceará, Cid
Gomes (PROS), e do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB); e os ex-governadores Sérgio
Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, e Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, que
morreu em um acidente aéreo no mês passado; além do tesoureiro nacional do PT,
João Vaccari Neto. Todos os supracitados negam as acusações e envolvimento com
o ex-diretor da estatal.
“Quando sai uma denúncia na (revista) Veja, ou em
qualquer outro jornal, eu não tomo nenhuma medida porque sou presidente da
República. Não tomo medida baseada no ‘diz que disse’”, afirmou Dilma. “Não é
possível que a Veja saiba de uma coisa e o governo não saiba quem está
envolvido”, disse a presidente. De acordo com a petista, a veiculação de
informações sigilosas compromete as provas das investigações. “Aí você
investiga, o Ministério Público denuncia e não pode ser condenado porque a
prova ficou comprometida”, disse Dilma.
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